terça-feira, 5 de agosto de 2008

Caderno 03/Texto 07 - Museologia, Identidades, Desenvolvimento Sustentável: estratégias discursivas.

A paisagem cultural no mundo contemporâneo se configura pela complexidade, pela fragmentação e pela constante movimentação. Os conceitos de sociedade, cultura e nação, que antes eram vistos como conceitos fixos, serão entendidas, agora, como discurso.

A nova ordem da contemporaneidade baseia-se na imprecisão e na relativização das idéias. E é baseando-se nessa teoria que o Museu deve ser compreendido como fenômeno.

O Museu-fenômeno se constrói na relação entre o Tempo, o Espaço, a Memória e os Valores (as Culturas). Compreendê-lo significa “percebê-lo através da experiência de mundo do indivíduo – em si mesmo e na sociedade através do cruzamento de relações (...) com o Real complexo” . Logo, o Museu deixa de ser apenas representação, passando à esfera da organização de conjuntos sígnicos, constituindo o que se entende por Patrimônio.

Museu e Patrimônio são conceitos que se desdobram em muitas categorias. Devemos entendê-los no âmbito da pluralidade, ou seja, não como uma coisa, mas muitas. A relação que existe entre os dois é a relação que “se institui na pratica, a partir das relações de cada grupo social com os tempos e os espaços da memória individual e coletiva” .

Para um melhor entendimento do termo patrimônio, o conceito é explicado como o que se entende de percepções identitárias, estando intimamente ligado à Memória e se fazendo presente em todas as categorias de Museu. Durante muito tempo foi entendido vinculado ao passado, sendo sua natureza uma ferramenta para a construção para o futuro.

Cabe à Museologia estudar as relações entre o Museu e o Patrimônio, “concebendo e atuando estas relações no plano do Real” .

A autora explica metaforicamente identidade como movimento, como processo de ser, vir a ser e deixar de ser. No mundo globalizado em que vivemos, ao pensar em identidade, chega-se à seguinte questão: Quais são as fronteiras que configuram a identidade? Mesmo com essa difusão, essa gigantesca rede comunicacional, ainda existem os extremos? A resposta é sim, porque mesmo que haja essa mundialização ainda se fazem presentes os limites do corpo e da consciência, ferramenta que nos mantêm em contato com o mundo real e o virtual, que delineiam o campo mental de cada individuo, onde se dará a configuração da identidade.

Esse processo muitas vezes não nos permite perceber a grandeza que nos pertence, como indivíduo e como coletividade. Portanto há uma necessidade de se estar em constante afirmação identitária.

Como foi dito, com o advento da globalização, as trocas culturais se intensificam. Os homens, apesar das diferenças sócio-culturais, mantém-se em comunicação. A mundialização e a complexidade da contemporaneidade nos dá a sensação de não-espacialidade, o que nos mantêm em constante itinerância, voltando assim à noção de identidade.

Para entendermos como essa questão da identidade na América Latina, Scheiner recorre à Canclini. Para esta os cruzamentos sócioculturais latinos misturam o tradicional e o moderno, gerando uma grande heterogeneidade cultural.

A proposta de Canclini é pensar a cultura e a produção simbólica do universo latino-americano na interseção entre as diferentes práticas sociais e as diferentes formas de discurso que sobre elas se estabelecem – pois o popular não se define por uma essência a priori, mas pelo modo como a cultura popular é representada no museu ou na academia, ou divulgada pela mídia.

A partir disso, deve-se entender as estratégias pedagógicas do Museu e da Escola com a utilização do Patrimônio.

Mas, o desenvolvimento do moderno em relação com o tradicional não leva à extinção do que é popular e folclorico. Contudo, na contemporaneidade, essas categorias chamadas de “baixa cultura” permanecem em constante mudança, em um processo de transformação de suas matrizes, originando a multiculturalidade e as muitas identidades..

E ninguém melhor do que Paulo Freire defendeu a dignidade dos elementos culturais nacionais e populares (...), que a dignidade humana e as identidades culturais se constróem no cotidiano, a partir da valorização dos traços qe definem cada indivíduo frente a si mesmo e na sua relação com o mundo

Caderno 03/Texto 06 - Novos cenários culturais da Museologia no contexto da mundialização

As inovações tecnológicas presentes no mundo de hoje modificam as formas de circulação das expressões culturais e os conteúdos dos produtos culturais. O cenário de tais inovações é a sociedade pós-industrial, aonde vem ocorrendo a mundialização, o que interfere no modo de pensar as identidades culturais.

A reflexão proposta neste âmbito é ‘qual é o conceito de cultura’, pois essas se cruzam devido à intensa migração que ocorre. E por conta desta “mistura cultural” afirmar a própria cultura pode se tornar uma atitude racista, agressiva e xenófoba, já que a afirmação significa a exclusão do diferente.

No pensamento latino-americano vem predominando a questão nacional, pelo fato da mundialização estar ganhando espaço. Há uma polarização entre o nacional x mundial e entre particular x geral, referente ao saber humano.

Por parte de políticos, ensaístas e literatos também há uma polarização que se refere ao tradicional x moderno. “A modernidade representa o futuro e a tradição simboliza o passado” . Porém tal fragmentação pode repercutir nos aumento da disparidade entre riqueza e pobreza, na acessibilidade aos bens culturais, no consumo (que é estimulado na sociedade de hoje) e conseqüentemente na qualidade de vida.

No cenário do fenômeno da explosão urbana causada pela mundialização, fala-se em hegemonizar a cultura, porém com a explosão as cidades não param de crescer unindo as mais variadas pessoas, sendo elas ricas, pobres, excluídos, ou seja, grupos que não possuem nenhum tipo de interação (religiosa e cultural). Como fazer a hegemonização com os problemas socioculturais existentes?

“No que diz respeito à cultura e às identidades, a globalização das comunicações produz uma difusão maciça de mensagens culturais que muitas vezes resultam incompatíveis com as situações das sociedades locais” . O que leva a aceitação da dominação de uma cultura (ocidental) “superior” sobre as outras.

Na museologia, a mundialização também gera conflitos, visto que se tem um aparato tecnológico grande para utilizar nas exposições, mas, no entanto não se podem utilizar as novas linguagens devido ao público misto, que conta com setores da sociedade com acesso à educação e a grande maioria analfabeta.

A temática museológica passa a gerar em torno não mais do “fazer história” e sim de uma tentativa de prever o futuro, para justamente não expor os problemas contemporâneos desta mundialização, e sim colocá-la como uma solução.

O papel do museu seria o de testemunho da sociedade que está inserido, sendo estas heterogêneas ou homogêneas, mas também explicar a mundialização que está ocorrendo. Com isso o museu equilibraria suas funções sociais. Mas por conta do contexto da mundialização cabe a pergunta: “Qual será, nos tempos em que estamos vivendo, o espaço social do museu?” .

Caderno 03/Texto 05 - Extensão Cultural e Pedagogia do Desenvolvimento: um desafio para a contemporaneidade da Museologia latino-americana

1. Um pouco de história e tradição
As ações destinadas à preservação do patrimônio histórico e cultural pretendem valorizar a memória – através de seus fatos e atos – do passado, para que esta mantivesse sua vigência mesmo com o passar do tempo. Esta função de formação, que foi esquecida muitas vezes por um simples exibicionismo, foi voltando a tona gradativamente ganhando muito espaço a partir dos anos 60. Há uma confusão, porém, entre o que seria a ‘instrução pública’ e a ‘educação popular’ e aconteceram reduções da cultura popular em exposições de folclore ou de arqueologia. Esta cultura popular tem sim estes componentes, mas é basicamente etnográfica. Ela se mantém viva porque “se perpetuam nas práticas cotidianas com a vigência absoluta de seus valores” . Ao discutirmos cultura e educação popular na América Latina percebemos que ela é tão viva, pois explicita os espaços de conflito. Assim, se permite duas formas diferentes de ação sobre esta cultura, a ação educativa institucional que traz o modelo de superação evitando chegar ao cerne do conflito, e os outros representantes da comunidade, como os museus, por exemplo, que o coisificam.

1.2 . A história de um desacerto
A educação popular na América Latina era o que a classe dominante proporcionava à classe dominada, assim podendo garantir a continuação do sistema social. Nos anos 60, Paulo Freire traz novas visões questionando a simples reprodução de conteúdo em sala de aula, sem espaço para debate, para opiniões divergentes, impondo ao educando e não propondo sua participação.

Esta proposta educativa para um desenvolvimento cultural integral, traduziu a demanda indiscutível dos povos do cone sul e propôs uma educação formativa e uma extensão cultural dos conteúdos e dos valores vivos e das práticas sociais, supostamente em conflito com modelos de estratificação social vigentes e/ou permitidos .

1.3. A meta da contemporaneidade
Conscientes da relação íntima que existe entre a ação educativa oficial e a função educativa dos museus, já que ambas planejam e difundem conteúdos e ações para valorizar e desenvolver certas práticas sociais; trataremos da extensão museológica como em paralelo ao sistema educativo, para que ao enfatizar os valores integrais possa contribuir coma função educativa institucional. Esta extensão tem como ponto de partida a definição da função do museólogo neste processo, já que os objetivos e metas precisam estar comprometidas a todos os envolvidos (a própria instituição, as estratégias museográficas e o grupo social “que lhe empresta conteúdo e valoriza sua ação” ).

2. A Extensão como teoria e prática das identidades
A extensão parte do diálogo entre os extensionistas e a sociedade, já que “dialogar supõe uma realidade partilhada” . Sendo que é necessário que se perceba a realidade/objeto como por onde são passadas as mensagens dentro de uma complexa rede. O sucesso ou não de uma extensão cultural (ou museológica) dependerá de sua adequação ao processo sociocultural que pertence (e quem deve fazer esta adequação é o museólogo, de preferência, a partir da política museológica da instituição). Isto é, depende do êxito do diálogo das partes, sem que fique limitado a um “modelo estrutural de percepção monovalorativa” .

As culturas populares são espaços articulados e articulantes da cultura total e integral de uma nação. Manifestam o conflito porque estão vivas, circulando pelas redes visíveis ou pelas redes subterrâneas, que lhes permitem construir as identidades locais e regionais.

3. A contemporaneidade da Museologia latino-americana: extensão cultural ou pedagogia do desenvolvimento
A extensão museológica é um agente de mudança, e assim vai respondendo conforme interesses (culturais, econômicos, ideológicos, valorativos). A percepção tradicional e reducionista da realidade (a partir de um modelo de política educativa e cultural) sustentou projetos que obtinham pequenas transformações em espaços reduzidos e a simples exclusão daquele que não decodificasse as mensagens do líder. E este tipo de ação não deve prevalecer neste processo de globalização, quando o global trouxe novamente a tona a natureza do conflito. No global o individual perde força, e o popular ganha somente a marginalidade (fora quando exotismo do folclórico). A extensão como proposta de desenvolvimento é aquela que se aproxima dos processos e dos envovidos, recolocando seguidamente os conceitos de ‘realidade’ e ‘cultural’ em suas dinâmicas (complexas), que em final levam “a definição de lugar próprio” .

“Um projeto de extensão museológica das culturas populares num modelo de sociedade moderna, ou das culturas regionais no quadro da globalização das sociedades pós-modernas” deveria ter objetivos como: a reelaboração constante da realidade, reconstruir filosofias e políticas culturais que pensem o desenvolvimento social regional e integral, usar de técnicas e métodos na extensão museológica que estejam embasadas em ações que informem formando e busquem a autoformação, para que os agentes se tornem ativos e comprometidos com todo seu processo social regional. Em resumo, conceitualizar a meta que surge na contemporaneidade usando nos museus de teorias e práxis mais próximas aos problemas e a complexidade social latino-americana. Respeitar o futuro, mantendo sua incerteza de forma a permitir que os conflitos gerados pelas “culturas populares” no interior da cultura integral de um país possam ser otimizados.

Caderno 03/Texto 04 (c) - Museus, sociedade e meio ambiente

O autor discute o conceito de “meio ambiente”, “ecologia” e “proteção natural do meio ambiente”. Em sua opinião quando queremos associar museologia e meio ambiente, pensamos tanto na conservação do patrimônio natural ou cultural ameaçado quanto na informação e na pedagogia, com o objetivo sempre de resguardar os elementos ameaçados. No entanto, se aceitamos sua definição mais ampla, a natureza do museu surge nos problemas essenciais tanto da vida humana, quanto da vida em geral, e não apenas da matéria, mas também de sua transformação no espaço e no tempo. Para Desvallées o museu é o homem com todas as coisas que o cercam e assim o museu é também o meio ambiente. Foi a partir desta visão que surgiu em 1972, na conferência do ICOFOM, o conceito de ecomuseu, o museu específico para o meio ambiente. Além das questões puramente ambientais, a ecomuseologia se encarrega, segundo o autor, das conexões do ecomuseu com o meio ambiente e dos indivíduos com seu território. Para ele num tempo globalizado o museu deve progredir se quiser manter o sentido de suas origens, entre outras razões porque, politicamente, é sua única chance de sobrevivência. Para Desvallées a museologia é a ciência em melhores condições para entender o mundo e propiciar o descobrimento da vida global tanto física, biológica e social quanto cultural.

Caderno 03/Texto 04 (a) – Museus, sociedade e meio ambiente

Mesmo reconhecendo a existência de outras prioridades, como problemas políticos, econômicos e sociais, o autor recomenda que sejam reconsiderados os temas que relacionam museu e meio ambiente. Tema abordado na ECO-92, a questão ambiental assume hoje grande importância, já que incide diretamente sobre a vida das pessoas ou porque todos se preocupem com o futuro do planeta e da biosfera.

Segundo Michael, embora a princípio a relação entre museu e entorno não desperte atenção, deve ser abordada como importante tema para a reflexão de museólogos.

Enumera dois pontos que não devem ser desprezados pelos museólogos caso realmente desejem, através do museu, influenciar o comportamento da sociedade face aos problemas ligados ao entorno: o impacto provocado pelo próprio museu no entorno e o papel que podem desempenhar visando à melhor compreensão da relação público-meio ambiente e dos problemas do entorno, que agora se apresentam.

Ressalta ainda um terceiro aspecto nessa relação, a influência do entorno sobre os museus e suas coleções, citando como o mais freqüente a poluição do ar no centro das grandes cidades, alertando aos museólogos quanto à atenção e à tomada de medidas necessárias o mais rápido possível, inclusive procurando sensibilizar a opinião pública. Também são por ele citados o aquecimento global, recomendando inclusive a transferência de museus situados em áreas litorâneas para locais mais elevados; atos de guerra, acarretando vandalismo, e interrupções nos serviços indispensáveis, embora reconhecendo serem poucas as medidas preventivas a ser tomadas.

Alerta ainda quanto à urbanização desordenada, capaz de provocar uma rápida degradação do meio ambiente, e a conseqüente decadência de um endereço, antes de prestígio; talvez a atuação em campanhas comunitárias por parte de museus situados em áreas com esse perfil possa minimizar o impacto desses fatores, uma vez que sua atuação pode ajudar a comunidade a compreender como sua atitude pode contribuir tanto para a proteção como para a degradação do meio ambiente.

Considera ainda o autor que, embora se creia que os problemas ambientais sejam traduzidos pela poluição do ar, dos rios e oceanos, pela extinção de espécies, habitats e florestas, uma política em relação ao entorno deveria desenvolver-se em escala mundial, estudando-se desde a degradação da camada de ozônio ao efeito estufa, levando-se em conta que 80% da população mundial vive em países em vias de desenvolvimento; descreve problemas relativos ao entorno, surgidos nas últimas décadas, relativos ao contraste entre o primeiro e o segundo mundos, como a poluição atmosférica, o buraco na camada de ozônio, o desmatamento, a exploração excessiva dos recursos naturais, dentre outros.

Reconhece que, apesar de causarem graves danos ao entorno, certas atividades, como a indústria, a produção e distribuição de energia, o turismo e sua infraestrutura, etc., tornam-se indispensáveis para o desenvolvimento econômico, evitando por vezes a miséria, o maior problema ambiental, e lembra que os museus – enquanto instituição a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento– deverão implementar ações no sentido de contribuir para a solução das questões relativas ao meio ambiente.

Cita Nancy Hushion, que presidiu o Comitê da Conferência em Quebec, que colocou a seguinte questão: O museu apresenta dificuldades para abordar tais questões relativas ao meio ambiente porque, na maioria das vezes, o aporte financeiro que garante sua sobrevivência é oriundo de empresas poluidoras. Como o museu deve ter um discurso coerente, deve optar por apenas uma das questões, fato que algumas vezes se mostra impossível, levando o museu a não adotar nenhuma medida concreta.

Michael alerta que, há muitas décadas, a questão é bastante espinhosa para os museólogos e simplesmente não se resolve porque são cada vez maiores as dificuldades e, muitas vezes, há necessidade de adotar medidas de caráter político.

Ao museu não basta apenas ser coerente em seu discurso, deverá, também, ser persuasivo na forma como expõe seu ponto de vista, baseando-se em informações fidedignas que tenham autoridade junto a sua direção, visitantes, comunidade e outros, adotando medidas que melhor atendam suas necessidades na questão ambiental.

Os museus de ciências naturais, por exemplo, que apresentam em suas coleções elementos da fauna e da flora, deverão aproveitar para apresentar também exemplares que estão em extinção, conscientizando os freqüentadores sobre a necessidade de sua preservação. O diálogo poderá ser estabelecido através de exposições enfocando o meio ambiente.

Outra questão sobre qual o museu não pode prescindir, como qualquer empresa, diz respeito à responsabilidade sobre o consumo de recursos e à produção de resíduos que interferem no meio ambiente. O museólogo deverá estar consciente de sua responsabilidade ao trabalhar o ambiente em que está inserido, tanto social quanto natural.

Especial atenção deverá ser dada a questão de museus cujas coleções são constituídas por espécies que vivem em estado selvagem - jardins botânicos, zoológicos, etc. – considerando que suas atividades não deverão contribuir para a extinção de algumas dessas espécimes.

Então, temos a seguinte pergunta: Qual o papel do museu para que a relação entre público, “entorno” e os problemas ambientais que a humanidade enfrenta sejam melhor compreendidos?

O autor apresenta algumas possibilidades, dentre outras, que podem ser postas em prática pelos museus: os de ciências podem criar projetos para que a população entenda como a ciência pode se colocar a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, mormente acerca dos problemas ambientais; os de arte podem através de exposições apresentar as questões sociais oriundas das cidades-dormitório existentes junto aos grandes centros; os de história social podem mostrar a evolução da sociedade e os meios desenvolvidos para atenuar a degradação do meio ambiente, etc.

Afinal, Michael ressalta a necessidade de que haja uma troca de experiências entre os museus dos diversos países sobre as medidas implementadas, de forma que se possa avançar na temática ora exposta – museus e meio ambiente.

Texto 31 - Conclusões e recomendações do II ICOFOM-LAM

Este texto é o documento produzido no II Encontro Regional do ICOFOM LAM, que aconteceu na cidade de Quito, Equador, em julho de 1993; que teve por tema “Museologia, museus, espaço e poder na América Latina e no Caribe”.

Neste encontro se discutiu as transformações econômicas que a América Latina e o Caribe estavam passando, suas repercussões sociais, políticas e culturais. Percebe-se que era um momento oportuno para que a Museologia consolidasse relações com o poder político e econômico, contribuindo para o fortalecimento das identidades. Entendendo que o Estado deva assumir as responsabilidades que lhe cabe como “guardião do patrimônio e protetor de sua conservação e integridade”, como já se tinha afirmado na Declaração de Caracas.

Para pensarmos o papel dos museus na América Latina e Caribe é necessário considerar a dimensão política da Museologia, as implicações ideológicas da função social dos museus. Entendendo a idéia de Museu enquanto processo de comunicação; recurso alternativo de educação integral; fonte de recuperação e socialização de valores comunitários; espaço de interação e fator de desenvolvimento social.

Esta dimensão política demanda esforços dos profissionais para todos os processos e “relações bidirecionais de poder” comuns ao museu.

Entre o conflito de poderes, o museu, através da troca que estabelece com a comunidade, se legitima; proporcionando “alternativas de futuro favoráveis, comprometidas com a busca do Homem Integral, consciente de seu espaço, de seu tempo e de sua cultura” .

1. Sociedade e Cultura
Considerando que o processo de colonização da América Latina e Caribe impôs valores externos a estas populações, e que a partir desta relação entre homem-meio que se estabelece o desenvolvimento cultural, sendo que este influencia qualidade de vida. E que por meio do conhecimento da própria história é possível compreender o presente e projetar-se ao futuro.

Recomenda-se aos museus que desenvolvam ações que fortaleçam e valorizem o entendimento do muticulturalismo presente nos países latino-americanos. E às sociedades que estimulem o reconhecimento das culturas dos grupos minoritários e contribuam para sua preservação.

2. Museologia
Considerando que “a museologia [que] é uma disciplina científica que compromete socialmente a todos aqueles que nela trabalham”, e o museu como instituição contribuem para a construção de um sistema que dá suporte a trajetória das sociedades.

Recomenda-se aos profissionais da Museologia respaldarem a aplicação dos conceitos próprios desta disciplina científica através de ações concretas, colocando em prática as recomendações do II Encontro Regional do ICOFOM LAM.

3. Museus
Considerando que “os museus são espaços e meios de comunicação de valores” e que hoje têm destacada sua responsabilidade com um papel social de refletir uma sociedade multicultural, que gera um processo de autoconhecimento e que participa de um desenvolvimento integral da sociedade.

Recomenda-se aos museus que adotem medidas de difusão das atividades realizadas – inclusive meios de comunicação de massa –, estimulando um pensamento crítico sobre a prática museológica e permitindo e estimulando a participação da comunidade.

4. Espaço
Em relação a este tópico, foi considerado que o Museu não trabalha apenas com o passado, mas também com o presente e o futuro, nos aspectos físico, social e cultural. Foi constatado também que na América Latina identifica-se uma identidade por suas histórias e tradições comuns e que os sistemas educativos não correspondem à realidade desta identidade.

Assim, recomendou-se aos organismos relacionados à prática museológica o desenvolvimento desta prática através de textos teóricos e aplicação e difusão do Código de Ética e Deontologia Profissional do ICOM.

Ao ICOM, recomendou-se a estimulação e unificação da Museologia para que seja refletida de maneira homogênea na América Latina.

Às instituições educativas, valorizar o potencial educativo dos museus da região e a estes se recomendou atuar como complemento do sistema educativo.

5. Poder
Com toda a problemática dos sistemas de poder da América Latina, discutiu-se que o processo de desenvolvimento integral dos museus vê-se seriamente limitado pela falta de continuidade nas diretrizes governamentais, sendo que esses têm que trabalhar “dentro de uma rede de interesses políticos e hegemônicos” e que a economia é fundamental para a conservação e difusão do patrimônio cultural e natural.

Assim, foi recomendado aos órgãos relacionados ao patrimônio e às instâncias governamentais garantir a permanência de políticas culturais e a consecução destas em diferentes governos e aos profissionais de museus “evitar a utilização arbitrária do patrimônio cultural e/ou natural, com fins ideológicos, de poder e de hegemonia” .

Foram, então, listadas 3 ações práticas para completar este quadro teórico:
Moção nº 1: Elaboração de um plano que faça cumprir nos museus da região as considerações e recomendações organizadas neste evento.
Moção nº 2: Criação de um organismo coordenador de museus no Equador, vinculado à Subsecretaria de Cultura do Ministério de Educação.
Moção n° 3: Solicitação ao Ministério de Educação e Cultura do Equador que ajude, na medida do possível, por meios econômicos, a situação dos museus existentes no país.

“Aprova-se ainda, um voto de apoio para os seguintes projetos (...):
1. Solicitação apresentada à UNESCO pela Venezuela para obter a Declaração de Coro e La Vela como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade;
2. Gestões iniciadas pela Municipalidade de Cuenca, Equador, para solicitar que o centro histórico da cidade seja declarado Patrimônio Cultural da Humanidade;
3. Revitalização do edifício denominado A Pérola de Cuenca na cidade do mesmo nome, onde em breve funcionará o Museu dos Metais, como centro cultural e sede de exposições temporárias e permanentes.” .

Texto 30 - Declaração de Caracas

Reunião de museólogos latino-americanos em 1992, para rediscutir as funções do museu no atual momento.

1.Museu Hoje-novos rumos:

A comunicação do museu explica as suas atividades específicas (conservação, coleção e exibição do patrimônio) para a comunidade, estabelecendo a interação entre produtos culturais e comunidade.

Considerando:

. Que os objetos não falam por si mesmo, mas através das linguagens das exposições, eles apresentam valores e significados.
. Que as linguagens do museu devem atender a todos.
. Que o processo de comunicação é interativo, e não unidirecional, e deve enriquecer emissor e receptor.
. Que as linguagens expositivas tradicionais utilizam códigos que a maioria do público não entende.
. Que museus da América Latina não desenvolvem seu potencial por não “serem estimulados”.
. Que o museu é parte importante na educação do ser humano, tanto pessoal, como no âmbito social.
. Que o museu integrado na comunidade/integral não pode existir se o discurso utilizado não é democrático, participativo e aberto.

Recomendam:

. Que o museu leve em conta sua função museológica e saiba exercê-la. Observando também as características das comunidades que se instalarem, utilizando diferentes linguagens.
. Que o desenvolvimento da linguagem museológica permita o diálogo entre objeto e indivíduo e maior captação das mensagens culturais.
. Que o museu faça seu discurso pensando no presente e não só no passado. A questão não é o porquê de o objeto estar no museu e sim o contexto dele na sociedade e cultura atual.
. Que se busque novas formas de diálogo, levando em conta os diferentes tipos de público que vão ao museu.
. Que se conheça mais a comunidade em que o museu está inserido e a envolva nos processos museológicos.
. Que o museu seja alternativa aos meios de comunicação de massa e “espaço de reflexão e crítica da realidade contemporânea” (p.146).
. Que o museu contribua para o desenvolvimento da comunidade e dos homens.
. Que haja uma avaliação constante na comunicação que os discursos e a exposição estão fazendo, para se necessário, utilizar outras formas de linguagens.
. Que a partir de uma linguagem participativa, aberta e dinâmica tenha uma ação social e integral desenvolvendo o homem e sua comunidade.


2. Museu e patrimônio:

Apoiando nos objetos para se comunicar, o museu é uma instituição que difunde, estuda, documenta e preserva o patrimônio. Esses, são expressões espirituais e materiais de um lugar.

Considerando:

. Que existe um marco jurídico que normatiza a proteção do patrimônio.
. Que há a exclusão de certas expressões culturais, não as considerando patrimônio, por não possuírem “importância histórica” e não serem “excepcionais” por natureza.
. Que o patrimônio se perde e se deteriora à medida que os museus possuem problemas de conservação.
. Que muitos museus não possuem o controle de suas coleções e não inventariam seu patrimônio.
. Que a privatização de empresas estatais da América Latina é uma ameaça a integração e segurança patrimonial.
. Que a preocupação pela conservação dos bens culturais vem aumentando por parte da sociedade civil.

Recomendam:

. Que se atualize a legislação dirigida para proteger e conservar o patrimônio, para que este não se perca.
. Que coleções sejam formadas a partir da sua contextualização.
. Que haja uma maior relação entre museu e comunidade reformulando as políticas de comunicação, conservação, formação de coleções, educação e invenção.
. Que se dê maior importância a conservação do patrimônio, utilizando os recursos físicos, humanos e materiais ao máximo.
. Que se controle os objetos no museu a partir de inventários.
. Que se aproxime colecionadores particulares à instituições para juntos conhecerem e documentarem o patrimônio existente.
. Que se incentive a sociedade civil a conservar seu patrimônio.
. Que o Estado não se desligue do seu papel de cuidar do patrimônio mesmo com as novas responsabilidades dirigidas à empresas privadas e sociedade.
. Que o museu e a comunidade trabalhem juntos para proteger e valorizar o patrimônio.
. Que as pesquisas feitas pelas comunidades com o objetivo de reconhecerem seus valores sejam incentivadas pelos museus locais.

3. Museu e Liderança

O museu deve atuar como protagonista no “resgate e valorização social do patrimônio como expressão da comunidade e da cultura, aqui entendida como conhecimento integral do homem” (p.148).

Considerando:

. Que o museu deve ter conhecimento de seu entorno (social e meio ambiente) e do papel importante de atuação da comunidade em suas atividades.
Recomendam:

. Que os museus tenham consciência da realidade socioeconômica de seu entorno.
. Que os museus assumam a responsabilidade de gestor social
. Que os museus assumam seu papel de líderes nas áreas temáticas e contribuam para o desenvolvimento de uma consciência crítica.

4. Museu e Gestão

“O desenvolvimento de potencial do Museu encontra-se em relação direta com a sua capacidade de gerar e administrar seus recursos (...)” (p. 148)

Considerando:

.A falta de suporte governamental, mas tendo a noção da importância das associações com o Estado e as empresas.

Recomendam:

. Que se defina a missão que compete aos museus nas sociedades.
. Que as ações elaboradas pelo museu estejam de acordo com as necessidades da instituição e da sociedade.
. Que o museu recorra a organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, para captar recursos a fim de desenvolver atividades.
. Que se elabore projetos atrativos à empresas interessadas no investimento cultural.
. Que se mantenha um nível de comunicação com setores de poder da sociedade a fim de adquirir apoio público.
. Desenvolver estratégias para reconhecimento de público e opinião.
. Que se levem em conta a Ética profissional.

5. Museus e Recursos Humanos

É de suma importância a profissionalização do pessoal que trabalha no museu.

Considerando:

. Que a formação de museólogos cientes de seu papel é de extrema importância.

Recomendam:

. Que se priorizem e sistematizem programas de aperfeiçoamento de pessoal.
. Que se estabeleçam parâmetros de reconhecimento social, colocação e remuneração digna dos profissionais do museu.
. Que se desenvolvam programas de formação.
. Que se valorize o trabalho do museólogo.
. Que se promova maior contato com o ICTOP e, conseqüentemente, com o ICOM.

Novos Rumos

O Museu na América Latina é movido pelo seu meio social, pela comunidade a que pertence e pelo público com o qual se comunica. Logo deve-se:

1. Potencializar sua importância como espaço de relação entre indivíduo e patrimônio.
2. Auxiliar na relação entre museu e classes políticas a fim de promover a compreensão e o compromisso.
3. Desenvolver uma linguagem museológica abrangente.
4. Refletir as várias culturas.
5. Reconceituar patrimônio musealizável com referencial no meio ambienta físico.
6. Dar a devida importância à prática da inventariação.
7. Valorizar o profissional de museus.
8. Formar profissionais de museus adequados.
9. Estabelecer mecanismos de gerenciamento e capacitação de recursos.

Conclusões

O encontro serviu para a reflexão sobre a relação do museu com seu contexto social, político, econômico e ambiental, aumentando a visão de museu como protagonista de seu tempo.

“Passados 20 anos da Mesa Redonda de Santiago do Chile, e ante a proximidade do novo milênio, o museu se apresenta, na América Latina, não só como a instituição idônea para a valorização do patrimônio, mas como instrumento útil para lograr um desenvolvimento humana e com maior bem estar coletivo.” (p. 151)

Textos.. como combinamos...

Gente, abaixo vão os textos que o Bruno passou por e-mail pro meu grupo.. em breve as resenhas...

UE 03 - Texto no. 26

Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável


Em 27 de janeiro de 2005, o Diretor Geral da UNESCO, Sr. Koichiro Matsuura, anunciou a data do lançamento da Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.

A Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (DESD) foi oficialmente
lançada na sede das Nações Unidas em Nova York, na tarde do dia 1o. de março de 2005. O Secretário Geral da UNESCO, Kofi Annan, discursou na ocasião.

Complementando o evento, haverá uma série de lançamentos nacionais e regionais da Década, ao longo do ano de 2005. Para maiores detalhes, ver http://www.un-ngls.org/decade-education.htm

A UNESCO também acrescentou a Educação ao quadro da Campanha para a Cúpula do
Emprego para Jovens (Youth Employment Summit – YES). Para maiores detalhes, ver
http://www.yesweb.org/

Os 6E mais a Educação perfazem sete: por que a Educação é central para a Campanha YES. Vejam o relatório de Rupert Maclean, Diretor do Centro Internacional da UNESCO-UNEVOC para a Educação e a Formação Técnica e Vocacional (TVET).



UE 03 - Texto no. 27


DECLARAÇÃO DE AHMEDABAD

Esta Declaração foi redigida em 20 de janeiro de 2005 por mais de 800 educadores, pensadores e técnicos de mais de 50 países, dedicados à educação para o desenvolvimento sustentável, ao final da Conferencia Internacional sobre Educação para um Futuro Sustentável, realizada em Ahmedabad, Índia.

Como a primeira conferencia da Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (DESD), damos a nossa calorosa acolhida a esta Década que enfatiza o potencial de ação que possui a Educação para mobilizar as pessoas em prol de estilos de vida e políticas sustentáveis.

Se os povos do mundo desejam gozar de uma alta qualidade de vida, devemos mover-nos rapidamente em direção a um futuro sustentável. Ainda que muitos indicadores mostrem distancia da sustentabilidade, muitos esforços de base desenvolvem-se em todo o mundo no sentido de modificar tais tendências.

Aceitamos nossa responsabilidade e conclamamos todos os povos a aderir a este movimento, fazendo tudo o que for necessário para perseguir as metas da Década, com humildade, inclusão e um forte senso de humanidade. Convidamos a uma ampla participação através das redes, partenariados e instituições.

Enquanto nos reunimos na cidade onde Mahatma Ghandi viveu e trabalhou, lembramos as suas palavras: Educação para a vida; educação pela vida; educação através da vida. Estas palavras fundamentam nosso comprometimento com o ideal de uma educação participativa e permanente.

Acreditamos firmemente que a chave para um desenvolvimento sustentável é o empowerment de todas as pessoas, segundo os princípios da equidade e da justiça social, e que a chave deste empowerment é a educação orientada para a ação.
A educação para o desenvolvimento sustentável implica numa mudança de visão sobre a educação, já não mais vista como um mecanismo de delivery, mas como o reconhecimento de que somos todos mestres e educandos. A ESD deve acontecer em vilas e cidades, escolas e universidades, escritórios e assembléias, gabinetes de ministros e servidores civis. Todos devem lutar para viver e trabalhar de modo a proteger o meio ambiente, realizar avanços na justiça social e promover a equidade econômica para as gerações presentes e futuras. Devemos aprender a resolver conflitos, criando uma sociedade responsável, e a viver em paz.

A Educação para o Desenvolvimento Sustentável deve iniciar-se pelo exame de nossos estilos de vida e pela nossa vontade de servir de modelo em nossas comunidades, promovendo a sustentabilidade. Devemos compartilhar nossas diversas experiências e nosso conhecimento coletivo para refinar a visão de sustentabilidade, e ao mesmo tempo expandir continuamente a sua prática. Através de nossas ações, acrescentaremos substancia e vigor aos processos da Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.

Estamos otimistas de que os objetivos da Década se realizarão e partimos de Ahmedabad com um sentimento de urgência, compromisso, esperança e entusiasmo.

Meena Raghunathan

Programme Coordinator
www.ceeindia.org/esf

Texto 38 - Criar seu museu – uma experiência comunitária

(Relatório preparado pelo programa dos Museus Locais e Escolares do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México e apresentado no 42º Congresso dos Americanistas, realizado em Paris, França, de 2 a 10 de Setembro de 1976).

A autora inicia sua explanação abordando o conceito moderno do museu, que consiste em mostrar o desenvolvimento econômico, cultural, político e social do homem, em área geográfica específica, sendo possível que os visitantes do museu observem os problemas de interesse, respeito e que determinam a vida daquela região.

Através do conceito moderno de museu e do Programa dos Museus Locais e Escolares do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAHG), surge a idéia de um programa que abordará aos diferentes setores sociais do país, museus que constituíssem a autenticidade histórica e criatividade dos habitantes de uma determinada região, funcionando como complemento do ensino formal, incentivando a organização de grupos sociais locais, promovendo o crescimento econômico e cultural das regiões participantes.

O programa dos museus locais desenvolveu-se conforme as necessidades sociais da população e das diversas soluções colocadas.

Pessoas comuns, provenientes de todos os grupos sociais e econômicos local, comerciantes, moradores da região, donas de casa, etc, formam uma organização civil, responsável em administrar, organizar, dirigir e manter o museu.

Essa associação ficará responsável pelo funcionamento dinâmico do museu e deverá ter consciência que eles serão os responsáveis em sensibilizar os habitantes da região sobre a importância da criação do museu, tendo este trabalho não apenas criado para meio cultural favorável, mas como forma de identificação de problemas sociais locais.

A formação das coleções do museu será através de doações e empréstimos da própria comunidade, aquisição pelos membros da sociedade civil, da transferência de objetos ou da coleta de objetos espalhados sem controle pela municipalidade. O abrigo dessas coleções será em construções coloniais e casas históricas, pois parecem mais indicadas para tornarem-se museus. Caso não haja nenhum espaço apropriado, a associação civil destinará construir um local para abrigar a sede do novo museu.

O primeiro museu inaugurado foi o de Acambaro, em 1973, seguido do Museu do Vale do Santiago e do Museu de Penjano, sendo o próximo museu a ser implementado será o de Salamanca.

A autora comenta com certa apreciação sobre o Museu de Penjano, pois apesar de ser um município em situação de abandono, apatia, insalubridade, poluição, falta de interesse pelos problemas sociais e culturais, analfabetismo e taxa elevada de migração de trabalhadores agrícolas, surge a idéia de criar um museu espelho de uma realidade apresentada anteriormente caótica, mas de forma a demonstrar soluções para os problemas que afetam essa comunidade.

Para a integração, foi montada uma exposição temporária que levaria aos seus habitantes os problemas que eles enfrentam, para que tomassem consciência destes. Foi montada uma equipe com funções delegadas para que a exposição fosse executada, desde seus aspectos burocráticos até a parte prática. Houve grande ação e mobilização da comunidade para que tudo pudesse transcorrer da melhor maneira possível. Estavam incluídos desde o prefeito, passando por donas de casa e estudantes, envolvendo até a Cruz Vermelha.

Para a realização completa do trabalho, foram necessários seis meses de trabalho. Os custos foram divididos e chegaram ao montante de 25 mil pesos. Para que tudo pudesse ganhar uma grande proporção, foi feito um detalhe minucioso das tarefas, durante seu período de realização. A interação desejada foi alcançada de forma dinâmica, entre os diversos estratos da sociedade. Houve uma união devido a um processo cultural.

Após esse período da exposição temporária, foi programada uma visita itinerante por localidades próximas, para que houvesse uma relação entre esses locais, o que não ocorria anteriormente. Devido a uma série de problemas, não pode ser constituída a Associação Civil, pois cada localidade tem que ter uma fórmula para adaptação e nem sempre ocorria de forma orgânica.

Após dois anos de trabalho efetivo, foi possível perceber a importância da relação museu/população. Graças à exposição dos seus problemas, a sociedade local pode identificá-los e então poder combatê-los, pois passam a ser organizar. Há maior integração entre os grupos. Foi possível inclusive, a implantação de uma escola primária.

Em relação a esta escola, percebeu-se a comunicação entre os setores campo-cidade e que esta última se desenvolveria sem ônus para a primeira, o que não ocorria anteriormente. Inclusive foi criada uma estrada para que o acesso do meio rural fosse facilitado. Desse ponto do projeto partiram-se outros, com igual importância, como campanhas de alfabetização, além do estímulo à educação primária.

Conclusões

O grupo social percebeu-se como membro integrante e atuante de sua comunidade, o que não ocorria, já que estavam isolados de forma econômica, social e cultural.
É um grupo assumidamente heterogêneo no que diz a condição financeira, mas está integrado em sua essência cultural. Muitos grupos urbanos passaram, inclusive, a adotar uma postura solidária em relação aos moradores do campo.

Podemos então notar: a grande função social que esse museu dotou a esta sociedade, até então dissociada de seus valores, mostrando que não é necessário grau de instrução (alfabetização) para que se compreenda os processos de museu, já que, se os objetos que estão dentro daquele museu são identificados com facilidade por aquela sociedade, não há necessidade de legendas para a sua identificação formal.

Texto 37 - Museologia e Desenvolvimento

No texto, a Nova Museologia é analisada sob dois aspectos: 1- como reflexo de uma nova estratégia de Desenvolvimento Econômico e 2 - O Desenvolvimento Integral e as diferentes práticas da Nova Museologia. Ambos contribuíram para o fortalecimento das bases teóricas deste movimento.

O sistema capitalista, desde o seu surgimento, possuiu diversos modelos de acumulação, diferentes estratégias de crescimento e de desenvolvimento econômico. Todos sempre assegurando a manutenção do princípio: mudar o acessório para manter o essencial. Cada novo modelo induzia e exigia uma redefinição do espaço, a reorganização da estrutura social e econômica, a alteração de valores culturais e até morais. Os museus, é claro, não ficaram de fora: sua função e seu papel na sociedade também sofreram grandes mudanças.

A Nova Museologia, geralmente, é associada à contestação social dos finais dos anos 60, a movimentos de defesa do ambiente e à independência dos países necessitados de reforçar a sua identidade cultural. Embora todos estes fatos tenham contribuído para o surgimento da Nova Museologia, o fator mais importante foi o que originou também estes fatos explicitados: o ascenso de um novo modelo de Desenvolvimento Econômico (este aproveita a experiência anterior - concentração do capital e da produção -, as novas tecnologias disponíveis e a valorização de atitudes inovadoras = adaptação de todo o sistema capitalista às novas condições existentes).

O desenvolvimento local e regional, a partir das décadas de 60/70, não é mais visto como derivando do desenvolvimento global do país, mas sim o inverso. A região e o local são vistos como espaços privilegiados do desenvolvimento. Os novos museus vêm ser a expressão do novo modelo de desenvolvimento descentralizado, contribuindo para um processo de unificação social, efetuado numa escala intra-regional.
A Nova Museologia situa-se na vanguarda da reformulação estrutural do capitalismo. O movimento não faz mais do que abrir caminho para se proceder eficientemente às alterações necessárias à sobrevivência do modelo que muitos pensam corroer.

Na segunda parte do texto, onde é abordada a relação entre desenvolvimento integral e as práticas da Nova Museologia, é discutido, primeiramente, o problema da dimensão do conceito de desenvolvimento. Existem diferentes opiniões a respeito da sua natureza e domínio, por isso, é difícil chegar a um consenso. Desenvolvimento Integral também não é um conceito neutro, ele se baseia em escolhas coletivas do domínio filosófico, social e político. Daí pode-se entender como a Nova Museologia que tem uma raiz teórica comum pode ter uma grande diversidade de práticas.

O Desenvolvimento Integral é um conceito global que se prende com as aspirações dos grupos de indivíduos. Quanto mais se alarga o sentido do termo desenvolvimento, mais ideológica vai sendo a sua carga. É através da componente ideológica que o cenário ideal de vida e de convivência em sociedade é projetado: quanto mais o real tender para esse ideal, maior será a sensação de desenvolvimento. Tendo o seu cenário ideal de sociedade e no esforço de diminuir as distâncias entre o real e o projetado, as comunidades ou grupos vão utilizar este instrumento de dinâmica, o Novo Museu, de diferentes formas, em diferentes direções.

O Novo Museu é um instrumento político. Sua adjetivação é em última análise função do adjetivador e da base em que assenta o conceito de desenvolvimento deste. É também um instrumento de libertação: a Nova Museologia deve ser enriquecida e fecundada por um corpo de idéias e por uma prática que partam de e apontem um conceito de desenvolvimento baseado na descentralização espacial, na auto-suficiência, na integração econômica e social, no apoio mútuo, nas escalas reduzidas e no federalismo.

Texto 35 - Museu e Sociedade na visão de Paule Doucet

Scheiner inicia seu trabalho com indagações sobre a questão do patrimônio; como deveria ser o trabalho desenvolvido com ele e qual seria a sua representatividade perante a sociedade e o investigador. Estas indagações são inicialmente elucidadas com o trabalho de Doucet (que até 1999 foi Presidente do MINOM – Movimento Internacional para uma nova Museologia) que na Conferência Geral do ICOM de 1995 expõe fatos para inovar a Museologia. Estas novidades seriam:

• Novas orientações
• Novas estratégias de ação
• Novas metodologias de trabalho
• Novos atores
• Novos públicos
• Novos movimentos

Doucet ainda afirma que o conceito de Museu de que é uma “instituição a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento” é limitado e necessitado de uma mudança, pois a sociedade é passível de mudanças durante o seu desenvolvimento na história, mudanças estas que também influenciam a Museologia. Assim, é de extrema importância que a Museologia deve estar consciente dos acontecimentos sociais.

Scheiner também cita Dubet, que expõe 3 movimentos para atuação na Nova Museologia, que são: Racionalização, Subjetivação, Integração. Aos olhos dos investigadores esses movimentos são compreendidos como um “sistema de ação” e para os atores sociais funciona no “campo da ação”.

A combinação desses movimentos funcionaria em primeira instância a partir da relação entre a racionalização e subjetivação, onde ocorre a transformação de Instituições em Empresas culturais voltadas para um específico público. E também a reação de cada indivíduo de um grupo perante aos interesses econômicos resultaria em discursos que refletiriam a afirmação de cada indivíduo.

Na segunda instância é abordado a integração e o desenvolvimento da sociedade que na prática é uma defesa dos grupos sociais e também uma afirmação de grupos fechados de identidade.

Doucet expõe instâncias de análise do ambiente, que são: Continuidade, Câmbio, Racionalização. E para que haja compreensão das ações dos atores individuais e das coletividades deve-se estudar a ação patrimonial destes, para a obtenção das respostas obtidas através de uma análise interpretativa.Tudo tem que ser levado em conta nessa análise, desde o aspecto comportamental do indivíduo, o seu entorno influenciando o seu agir, originando a sua visão de mundo.É com esse sistema que Doucet justifica a sua hipótese como: “a ação patrimonial se constrói num projeto coletivo”. E acerca disso, ela constrói 3 proposições.

A primeira proposição ela aborda que a coletividade,desempenha o papel de sujeito-ator devido a sua relação com o patrimônio em um espaço público e essa ligação está ligada a interesses próprios. A construção da ação coletiva se dá a partir de sua história e a partir da ação, o indivíduo “torna-se” o que ele quer através de suas ações.

Na segunda proposição a questão da preservação da memória é explicitada e atinge um patamar especial para que haja a representação do coletivo e a existência da ação patrimonial.

Na terceira e última proposição se faz a abordagem da Nova Museologia, onde a Museologia comunitária ou coletiva é dinâmica, preservando e respeitando o viver de cada sujeito-ator de um grupo e ela está observando as mudanças dessa sociedade em desenvolvimento para que haja a incorporação total de ambos.

Texto 13 - Ecomuseu: Captura da duração, expressão transitória da identidade.

Marcel Évrard inicia sua narrativa com o significado da palavra identidade que deriva do latim IDEM que quer dizer: ser o mesmo que si mesmo.E essa identidade é múltipla e diversificada de acordo com o locus (lugar) e o momento.

A partir da consciência de uma pessoa, ela constrói a sua identidade e conseqüentemente as suas memórias. E é a partir da memória que os grupos se diferenciam porém Marcel afirma que “nunca nos identificamos totalmente”, devido às zonas de passagem que fazem o indivíduo a ter vários sentimentos e nessa fusão de sentimentos encontramos a nossa identidade.

Marcel prossegue a afirmativa com um olhar para a museologia e os objetos que são nomeados por ele como “dejetos” pois a museologia preserva, também recicla e reutiliza ações que dão sentido ao fazer museológico e ao próprio objeto que ganha um novo sentido. O museu para Marcel é uma instituição que concretiza a história, pois comprova a veracidade dos fatos da sociedade através desses “dejetos”.

O objeto, como status de relíquia, sagrado, também visa comunicar, pois através do sagrado percebemos que por menor que seja o valor testemunhal de uma outra cultura há nele um valor cultural que caracteriza esse determinado grupo.

Nesse contexto Marcel continua afirmando que o Ecomuseu se propõe a não venerar e nem sacralizar nada. A idéia de preservação se fixa no futuro, tornando o Ecomuseu um museu dos dejetos dos quais nasce o novo, o futuro. Ao se chamar pessoas para atuarem, elas estariam sendo atores de sua própria cultura e nesse aspecto o Ecomuseu preserva o futuro, não sacralizando o passado.

A importância dos objetos no museu serve para provocar, sensibilizar, estimular o visitante dando a ele novas experiências. Nesse sentido o Ecomuseu faz com que o visitante saia da repetição, onde a intenção maior é a interação do visitante com o lugar proporcionando encantamento e novas perspectivas.

O Ecomuseu ou Museu do Presente, que a partir do que já foi construído com as percepções da atualidade sempre nos leva para o que poderá vir, ao novo. O valor do Ecomuseu é estimular, fazer com que o visitante faça perguntas sem respostas prontas ou óbvias. A estimulação de percepções faz com que haja uma volta para si próprio, para o próprio conhecimento.

Marcel Évrard termina a sua colocação alertando para o risco de se ter convicção sobre algo, pois geralmente agimos sem prestar atenção no que fazemos. Para ele é de extrema importância a consciência do que fazemos quando fazemos, quando praticamos os atos.

O fim não é importante e sim a intenção colocada na ação.

Texto 14 - Definição evolutiva de ecomuseu

Nas últimas décadas, o universo dos museus sofreu uma grande transformação. Novas formas foram surgindo como resposta a novas necessidades culturais da sociedade e entre estas formas os ecomuseus, que são instituições que administram, estudam, exploram com fins científicos, educativos e culturais, o patrimônio total de uma comunidade específica, compreendendo a totalidade do ambiente natural e cultural deste grupo.

A partir do momento que o ecomuseu ajuda a preservar e a valorizar o patrimônio da cultura e da natureza de um dado grupo, ele pode ser considerado um conservatório. Pode ser definido também como um laboratório na medida em que é matéria de estudos teóricos e práticos em torno de uma população e seu meio ambiente. Funciona como uma escola, pois desempenha um papel de informação (importância da proteção dos conjuntos ambientais e da preservação das características e da história, passada e futura, daquela comunidade) e incentiva a análise crítica (desenvolvimento de uma consciência crítica comunitária).

É um instrumento idealizado, desenvolvido e explorado em conjunto por uma agência de poder (especialistas, facilidades e recursos que fornece) como também por uma população, com suas aspirações, seu saber, sua capacidade de aproximação. O ecomuseu é o instrumento privilegiado do desenvolvimento comunitário.
O ecomuseu é um espelho no qual a população olha para si mesma para reconhecer-se, onde a participação do público se reflete no planejamento do território e no desenvolvimento comunitário que conhece a experiência das populações que ali a precederam (interpretação do espaço). A comunidade é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto.
É também uma expressão do homem e da natureza. Nele o homem é interpretado em seu meio natural (a natureza o é em sua selvageria, mas também tal qual a sociedade tradicional e a sociedade industrial adaptaram-na para seu uso). Ele integra não somente os habitantes, visitantes transformados em atores, participando da vida do museu, mas também a ecologia da região rural ou industrial circundante.

Interessa-se pelo desenvolvimento das populações, refletindo os princípios motores da sua evolução, ao mesmo tempo em que os associa aos projetos de futuro, sendo aqui o ecomuseu uma expressão do tempo, sem, porém colocar-se como tomador de decisão. O ecomuseu não “apreende” um estado da comunidade em um momento dado, nem procura reconstruir de maneira estática o conjunto de seu passado.

Todas as definições aqui expostas possuem princípios comuns. Urge que os ecomuseus tornem-se uma meta para todos, que se transformem em museus, onde a comunidade que age sobre o ambiente, possa se encontrar, se expressar e refletir sobre ele, numa troca contínua de dar e receber.

Uma das críticas mais feita aos adeptos dos ecomuseus se resume em uma palavra: utopia. O que o expõe é o caráter muitas vezes teórico e exageradamente otimista da descrição da instituição, comparado aos resultados obtidos até hoje pelos ecomuseus existentes. Por isso, são necessárias sugestões mais concretas de ordem operacional, administrativa e financeira que sejam discutíveis e que se adaptem às estruturas normais de nossa sociedade.

Texto 36 - Museus e a participação das populações

A autora inicia o texto contextualizando a Nova Museologia e conseqüentemente suas novas ações e participações. A autora considera o ponto de partida dessas transformações, o início da década de 70, onde a inserção da população na ação e no desenvolvimento dos museus de torna primordial.

Comparando as duas fases, se assim podemos dizer, da Museologia, é visível que o museu enquanto espaço de contemplação vem sendo substituído pelo museu enquanto espaço de trocas, trocas essas que transformam constantemente as ações do museu.

Se de um lado via-se o público que olhava para a exposição, agora pode-se enxergar a população que gera seu patrimônio. O contraponto entre esses dois pólos é que permite a visualização ainda dominante dos espaços expositivos inteiramente voltados para o objeto e que só permitem um tipo de interpretação. Com a interação da comunidade isso muda de figura, propiciando que as instituições sejam encaradas como meio de desenvolvimento dessas comunidades, que ao se verem representadas não se dirigirão mais para as coleções em si, mas para o seu patrimônio.

Dessa forma, esse novo museu, permite as populações de mostrarem seu potencial de ação da seguinte forma:

1) Participação na decisão: Desde o nascimento até a manutenção do museu, a população é fundamental nas tomadas de decisão.

2) Investigação participativa: Todas as atividades cabíveis ao museu como: recolha, inventariação, conservação e investigação, devem ser desenvolvidas com a participação da comunidade.

3) Participação na gestão: A gestão das instituições sendo coordenadas por agentes da população possibilita ainda mais que os visitantes (membros da população) se vejam devidamente representados e diminui os riscos de apropriação e utilização do poder usado indevidamente.

A interação das populações no meio museológico (instituição) permite o desenvolvimento das reais preocupações sociais, econômicos, culturais e ecológicas que norteiam uma sociedade, substanciando assim o verdadeiro papel educativo do museu.

Essa nova forma de ação dos museus possibilita ainda a quebra de preconceitos e a possibilidade de expressão das culturas subalternas ou marginais. O museu é, desta forma, um poderoso instrumento político, onde as barreiras são quebradas e a descentralização deve ser adotada como um dos conceitos de desenvolvimento

Texto 12 - Declaração de Quebec

Princípios de Base para uma Nova Museologia

A Declaração do QUEBEC (1984) refere-se aos princípios de base para uma Nova Museologia que ocorreu há quinze anos após a Mesa Redonda de Santiago do Chile em 1972, organizada pelo ICOM, está sendo considerada um dos primeiros movimentos da Nova Museologia.

Sua proposta deverá ser considerada universalmente e que a Museologia atuará na contemporaneidade de forma ampla, através de suas atribuições e funções tradicionais, com apoio da interdisciplinaridade e dos novos meios de comunicação, abordando sempre a preocupação social do Museu.

Sendo a Nova Museologia uma forma de atuação junto à “Comunidade”, tendo preocupação / interesse com o desenvolvimento destas populações, buscará atuar de maneira global (científica, cultural, social e econômica), usando os recursos musicológicos (recolha, conservação, investigação científica, restituição e difusão e criação).

Estas propostas foram consideradas de acordo com experiências de diversos Museus, mostrando assim qual a necessidade de “modernização” e atualização da Museologia.

Texto 29 - ICOFOM LAM – 1990 - 2005

Trata da programação da criação e implementação do ICOFOM LAM, em novembro de 1990 no Rio de Janeiro, pelo grupos de trabalho da argentina Nelly Decarolis e da brasileira Tereza Scheiner, a fim de atender deliberação do ICOFOM de regionalização e descentralização do ICOM, objetivando, no caso do ICOFOM LAM, a documentação e a promoção de estudos de Teoria Museológica na América Latina e no Caribe, visando um maior acesso ao trabalho do Comitê através de trocas de atividades práticas e teóricas, com ênfase na produção de textos de Teoria Museológica contemplando o idioma da região.

Discorre sobre as realizações do ICOFOM LAM, durante seus 15 anos de existência, desde as atividades necessárias à sua implementação, assim como a organização de encontros regionais nos quais todas as etapas são realizadas pelo ICOFOM LAM, contando com a participação de profissionais de outros campos de conhecimento, a discussão de textos já publicados e a produção de novos textos,de modo ao confirmar a capacidade de teorização, na região, no campo da Museologia. Aponta para a difusão das déias através da distribuição de edições dos textos, traduzidas, para os diversos setores relacionados à Museologia em todo mundo. Apresenta uma lista de documentos de trabalho, produzidos por membros do ICOFOM, selecionados e publicados no Boletim do ICOFOM LAM. Ao todo, até 2005, 12 volumes foram editados. Propõe o apoio a organização de grupos nacionais e regionais de trabalho, em Teoria Museológica. No que tange ao desenvolvimento de estudos e pesquisas indica o progresso dos projetos: Terminologia Museológica (com a criação de um GT de terminologia Museológica coordenado em diversos países da região: Argentina – Brasil – Equador – México – Venezuela) e Patrimônio, Museologia e Sociedades em Transformação (em rede com o projeto internacional Da Opressão à Democracia – Vinos Sofka), em ambos os casos destaca-se a atuação de profissionais da Unirio.

Texto 26 - Museologia e a responsabilidade política e social dos museus

O mundo atravessa um período de mudanças nos sistemas políticos e nas relações internacionais que influenciam os museus e a museologia. Agora, desenvolvimento e meio ambiente andam de mãos dadas e desenvolvimento sustentável passa a ser buscado com interação global e é abordada a questão sobre a participação dos museus e da museologia, já que as soluções para os questionamentos sobre desenvolvimento sustentável requerem conhecimento interdisciplinar. Com isso, o papel dos museus e da museologia vão além da idéia original de seus criadores e agora passam a ter responsabilidade social e política. Os museus são partes do patrimônio nacional e cultural. A partir do momento em que interage com sua comunidade, o museu ganha uma nova demanda e passa a ter um papel na melhoria no desenvolvimento sustentável e no meio ambiente da comunidade na qual se encontra. A museologia é chamada a estudar no campo interdisciplinar os fenômenos sociais e ambientais, analisando-os e trazendo-os para sua área de atuação. A museologia deve criar pré-requisitos teóricos que possam tornar possível a mudança na ação museológica.

Texto 25 - Museus, Museologia e Diversidade Cultural: Uma complexa tríade

O texto de Márcio Ferreira Rangel aborda os museus, a museologia e a diversidade cultural como uma fatídica problemática da museologia e seus estudiosos na América Latina e Caribe, pelo fato de existir uma diversidade cultural nesses países, antes mesmo de seus descobrimentos; uma vez que os índios, que já habitavam esses locais, eram divididos entre si em diferentes grupos. Eram grupos latinos que, depois do descobrimento do novo mundo e da adoção da mão de obra escrava africana, somaram-se aos brancos europeus e aos negros.

O autor usa como exemplo a museologia e os profissionais brasileiros. Por ser o Brasil um país de amplas dimensões, possuidor de regiões diferentes entre si, e de um grupo populacional profundamente heterogêneo, questiona-se o fato de haver uma impossibilidade de os museus brasileiros não serem capazes de representarem a ampla diversidade existente, questiona-se também como um museu pode ser, e se pode espelhar tantas questões ao mesmo tempo.

Rangel parte do fato de a região Sudeste possuir um grande predomínio, sobretudo nos estados do Rio e São Paulo. Temos uma visibilidade latente deste fato, quando observamos suas respectivas capitais. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, segundo o autor, monopoliza instituições nacionais como Museus Nacionais, o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional. Rangel atenta para o aumento do número de Museus de Bairro, Ecomuseus... Segundo o autor, este movimento surge para representar os que ficam de fora das grandes instituições. Ressaltando a necessidade de representarmos, na medida do possível, esses grupos, e atentarmos a outros que se encontram ainda mais distantes, como tribos indígenas que não falam Português. O autor questiona como inserir esse último grupo em instituições nacionais.

Rangel relata um fato ocorrido na reunião anual da Sociedade Brasileira para o progresso da ciência, do ano de 1995, quando o autor pôde conhecer um trabalho realizado com uma tribo de Bororos, em Mato Grosso, onde foi organizado um museu que visa a preservação dos vestígios mnemônicos, que restaram naquela comunidade depois do contato com o branco, fato que causou danos aos Bororos. A coleção do museu, em questão, é formada por objetos de valor doados pelos próprios índios, esses objetos encontram-se organizados segundo as necessidades do grupo, o que estreita as relações com o museu, que acabou por se tornar um elo quase sagrado, ligando os Bororos com o seu passado.

Posteriormente, o texto afirma que a dificuldade maior se dá pelo fato de não haver uma identidade nacional definida. E questiona, ainda, se não seria melhor adotar a lógica de identidades no plural para abrangermos os diferenciados grupos existentes.

Citando White, o autor sugere que os museus poderiam aplicar a teoria dos tropos praticando diferentes discursos sobre o mesmo assunto. Afirma ainda que um dos papéis da museologia é trabalhar com a preservação dos testemunhos produzidos pelos diversos grupos e que a existência de instituições nacionais mata essa diversidade. O autor atenta para o fato de não poder haver museificações estratificadas e cristalizadas.

Segundo o texto, atualmente, o patrimônio cultural não abrange apenas a herança cultural, mas outros bens visíveis e invisíveis, além de englobar os grupos não hegemônicos. Sobretudo o patrimônio cultural é o fator de ligação dos indivíduos de uma sociedade. Entretanto, o autor indica que o patrimônio, no âmbito da teoria da reprodução cultural, não pertence a todos, quando investigações já mostram que as formas de cada sociedade transmitir seus saberes são diferentes da herança cultural. Conforme um grupo desce na escala econômica, mais deficitária será sua educação e menor será seu capital cultural. O fato de as classes hegemônicas se apropriarem do patrimônio comum, na medida em que possuem informação e formação para controlá-los melhor, torna necessária criação de inúmeras medidas para que os produtos de valor, gerados pelas classes populares, se tornem um patrimônio nacionalmente conhecido.

O autor acredita que para abranger esses setores de identidades excluídas, devemos reformular a noção de patrimônio considerando os usos sociais e o modo de apropriação da história. Deve-se, segundo Rangel, assumir a problemática que envolve a questão do patrimônio, o autor encerra afirmando acreditar na possibilidade de viabilizarmos um projeto histórico solidário para a afirmação de uma nação tão heterogênea.

Texto 24 - Museologia, Globalismo e Diversidade Cultural

Ao introduzir o texto, a autora busca entender a museologia como uma relação existente entre o fenômeno Museu e sua aplicabilidade à realidade de cada sociedade. A Museologia deve ser estudada e analisada dentro de uma visão transdisciplinar, interligando o homem a diferentes visões de natureza e cultura, dentro de variados campos do conhecimento como a antropologia, a sociologia, a ecologia, a economia e a ciência política.

Há todo um mito criado em torno da história do museu. Ele teria surgido na Europa do séc. XVIII, tendo como antecedentes o gabinete de curiosidades e o templo das musas. O museu, criado dentro de padrões europeus, se organizou para repetir os padrões de seus criadores, sem refletir a realidade africana, latino-americana ou oriental. Deste modo, o museu, como símbolo da cultura racionalista/ iluminista, mostrava uma face distorcida do mundo, uma visão unilateral de cultura.

O primeiro dilema da Museologia, apresentado no texto, é entender como o museu, padronizado nos moldes europeus, institui-se de forma hegemônica em sociedades não-européias, tendo como modelo as relações políticas, econômicas e culturais de dominação. Muitas vezes, são apresentados em museus os símbolos de determinadas culturas, sem que se conheçam profundamente suas raízes, desconsiderando seus valores culturais mais caros, pertencentes à memória e à identidade daquela sociedade. Isto enfraquece os laços identitários de uma sociedade.

O segundo dilema da Museologia recai sobre a ótica de que é necessário um maior afastamento do mito, caminhando para a concepção do Museu no plano do Real. A realidade pode ser tanto interior quanto exterior, o Real não é um apenas, mas muitos. Trata-se do Real Complexo, denominado pelos filósofos, ou seja, planos de realidade articulados dentro do museu para que configurem as especificidades e momentos de cada museu. Dentro do Real há várias faces, há aquelas que se apresentam e as faces do silêncio, já que, dentro dos museus, ocorre também uma memória da ocultação e do esquecimento. Seria utópico saber como deve ser um museu, isto não é possível. Contudo, é possível escolher como o museu pode ser. Levando em conta a dimensão humana, pode-se chegar a um melhor aproveitamento, utilizando-se múltiplas expressões culturais e identitárias. O museólogo seria um mediador dos diferentes planos de realidade que atravessam o museu e não apenas aquele mediador entre passado e presente ou entre o museu e a sociedade.

O terceiro dilema da Museologia trata de como se devem reanalisar alternativas para o modelo hegemônico de museu. A primeira dessas alternativas foi apresentada como o museu exploratório. Ele foi criado pela sociedade americana e fazia a síntese entre o museu tradicional, fruto do modelo tradicional europeu, e o laboratório pedagógico. O museu exploratório era um modelo adequado às sociedades altamente industrializadas. Dentro deste universo, estariam também os museus que se baseiam em coleções vivas, musealizadas em espaços artificiais como são os jardins botânicos, zoológicos e aquários.

O Ecomuseu surgiu como uma segunda alternativa. Ele foi instituído em países escandinavos, no final do séc. XIX, a partir de das experiências dos museus ao ar livre. Os países capitalistas e conservadores receberam esta alternativa com reservas. Trata-se de um museu que contribuiu para a possibilidade de musealização integral de um determinado território, seu foco de interesse não era apenas o objeto, mas o patrimônio; privilegiando a comunidade que abrangia o museu e não apenas o visitante tradicional. O Ecomuseu é um modelo difícil de ser implantado na prática, principalmente em grandes comunidades urbanas. Nessas sociedades, que se configuram pela pluralidade, o modelo paradigmático de reforço de perfis identitários do Ecomuseu encontra dificuldades para ser entendido. Uma terceira alternativa, que se apresentou no texto, é a dos parques naturais musealizados. Trata-se de um modelo holista de museu, que amplia o conceito de comunidade e percebe o homem como um elemento do universo e não como o figura central. Há ainda outra vertente de espaços, muitas vezes rejeitados como museus, que são os centros culturais e os parques de lazer “culturalizados”, um exemplo é o Epcot Center, nos Estados Unidos.

Portanto, ao se colocar como um problema o fato de, na América Latina, haver uma absoluta hegemonia do modelo tradicional de museu, abre-se um discussão sobre a aplicabilidade dos Ecomuseus. E, deste modo, o Ecomuseu passou a ser visto como o museu do discurso, ou seja, assunto muito requisitado em congressos, seminários e artigos; mas pouco vivenciado no plano real. Contudo, é necessário certo cuidado ao se apontar o modelos hegemônico, vigente na América Latina, como apenas um modelo teórico reducionista. Não se deve cair na tentação de ter uma visão maniqueísta do assunto, uma vez que não há só um lado bom ou ruim na questão.

Ao abordar a museologia, a autora lembra que “a percepção da diversidade cultural, vincula-se essencialmente à percepção da identidade”. Quando se pensa em identidade, pensa-se também em alteridade, ou seja, uma concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Muitos antropólogos afirmam que a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro. Do mesmo modo, a identidade nos remete à ontologia da diferenca (ontologia vem do grego ontos+logoi = "conhecimento do ser"). Heidegger elaborou a questão do ser na sua obra Ser e Tempo (em alemão: Sein und Zeit) e, segundo ele, a identidade é parte do Ser e não apenas uma afirmação por igualdade ou analogia. O lugar identitário é o Ser + o Pertencer, e a questão é explicada pelo termo ipseidade (o si-próprio), ou seja, pela percepção do Mesmo com relação a si mesmo. A partir daí, prossegue-se na relação entre o Mesmo e o Outro e, pode-se afirmar a alteridade enquanto diversidade. Mas é preciso entender que a identidade não existe como algo absoluto, ela é uma construção intelectual. Deve-se evitar a apologia ao “direito à diferença”, já que a diferença não está fora de nós, ela é o que há. Ao se aceitar isto, evita-se o fascínio pelo culturalismo, que tem origem numa sociologia vulgar. Portanto, o museu, ao conjugar espaço, tempo, memória, tradição e criação, vai projetar-se em infinitas relações humanas.

• Museus e Museologia em tempos de globalismo.

Os Museus, como já é sabido, não se constroem somente a partir do passado. Dentro do contexto global, podemos identificar a relação do Museu com o vir a ser. Nesta rede complexa, que o globalismo apresenta, diluem-se os limites territoriais, muda-se o sentido de nacional e este, como referência, perde um pouco do seu significado.

A tecnologia imprime novas redes de articulação e, neste contexto, a soberania nacional perde sua significação, o Estado vai atuar como agenciador para o ajuste das práticas políticas da economia mundial. Transformam-se as relações entre campo e centros urbanos, o primeiro industrializa-se e os movimentos migratórios para os grandes centros urbanos intensificam-se. O poderoso maquinário industrial, a biotecnologia reduz o número de trabalhadores na produção agrícola. A automação inaugura o fenômeno da desterritorialização. A divisão entre indústria e serviços tornam-se mais tênues. O crescimento desenfreado das redes de comunicação, bem como o predomínio das tecnologias de ponta, aumenta significativamente, e como conseqüência a concentração de renda em nível mundial intensifica-se, juntamente com as desigualdades sociais. Este quadro se apresenta de forma mais ostensiva nos países menos desenvolvidos.

O universo midiático, tanto o impresso quanto o eletrônico, irão ressignificar o tempo real plasmando através de imagens, um mundo ilusional do aqui e agora no universo minituariazado da tela do computador.Comunidades virtuais são criadas e o espaço ‘desmaterializa-se’. O recurso principal é a palavra e a imagem digitalizadas. Nessa realidade não existem perspectivas de controle. A sociedade global desterritorializada rompe espaços, civilizações e culturas e, consequentemente, as marcas identitárias perdem sua força. Destarte, complexifica-se a reconstrução das origens culturais e civilizatórias do indivíduo e da coletividade. “[...] a combinação entre singularidades de cada grupo ou lugar e as singularidades da sociedade global, como um todo, é que vai explicitar, hoje, a configuração identitária de cada um”.

No processo de mundialização da cultura, representada pela indústria cultural, a imagem vai se impor através dos meios informacionais, constituindo-se como “o intelectual orgânico dos grupos, classes ou centros de poder da sociedade global”. A globalização da informação implica também na recriação do local ganhando significado mundial.

Um dos aspectos nocivos, de que o texto chama atenção para o fenômeno da globalização é sua capacidade de também destruir muitas formas de cultura, justificando-se nos processos de modernização tecnológica e econômica.

É, portanto, possível afirmar que a sociedade transnacional e a sociedade de consumo equivalem-se, pois no mercado global o que vai importar é quem produz e quem consome. Com o enfraquecimento das redes de solidariedade, os regionalismos, etnicismos, provincianismos surgem como forma de resistência. Do ponto de vista político-econômico, os chamados blocos econômicos configuram o atual espaço geopolítico. A cultura adquire um caráter multinacional, com isso, o patrimônio, território e bem cultural ganham novos significados. Instituições internacionais se mobilizam na busca por medidas que garantam o equilíbrio do ecossistema global, a exemplo disso temos a questão do aquecimento global, um tema que encontramos em todas os meios de comunicação em nível mundial

A autora assevera a preocupação com o levantamento de estudos sobre etnias culturalmente diferenciadas, destacando os povos indígenas. Cabe ao Museu, enquanto espaço de reflexão e transmissão da informação, desenvolver e aprofundar as questões acerca das relações do multiculturalismo e do pluralismo das diversidades culturais. Assinala, ainda, que o papel da Museologia, perante a uma sociedade de economias e culturas globalizadas, na qual vivemos, é a busca de melhores relações entre global e local, cultura e mercado de consumo. É função do campo museológico também, identificar como se dá a questão do pertencimento, identidade e cidadania. Há necessidade de se criar mecanismos de articulação do corpo social dentro da área museológica. O desenvolvimento de formas de museus, que integrem os aspectos conjunturais surgidos no seio da sociedade contemporânea, congregando o nacional, regional, grupal e o global buscando representá-los.

Lança-se, então, uma reflexão acerca da questão da interculturalidade e o Museu. Estaria o museu colaborando para uma permanente compreensão da tolerância cultural, ou ainda este se mantém de forma cristalizadora reafirmando assim os discursos hegemônicos?

O texto tece uma crítica aos museus latino-americanos, em virtude da grande defasagem entre discurso e prática, onde o que se vê ainda hoje no campo da ação, é a reprodução do modelo tradicional dos anos 50.

O papel do museólogo e profissionais de museu, enquanto detentores dos saberes museológicos, relativizou-se na sociedade globalizada em função das redes de informação e a acessibilidade propiciada pela Internet. O museólogo da contemporaneidade é aquele que pensa o Museu, segundo Scheiner, e compete a ele fazer a ponte entre unidade e diversidade, produzindo formas dialéticas e de afinidades com os grupos sociais; promovendo o Museu como espaço de criação e produção de conhecimento tendo como esteio a democracia. Desse modo, o museu torna-se plural abrangendo todas as manifestações culturais, sendo ele mesmo uma manifestação cultural em processo contínuo de transformações, deixando de ser somente local de representação de objetos e coleções, passando a representar também fatos, fenômenos e espaços, reunindo os vários modelos de Museu, as diversidades culturais, assim como os espaços da natureza.

Texto 04 - Conferência Geral da Unesco 1960

Recomendações sobre os meios mais eficazes para tornar os museus acessíveis a todos

Partindo de diversas considerações a cerca das metas da Unesco no que diz respeito à educação popular, difusão da cultura e a contribuição dos museus, o texto propõe o que os museus devem ter em conta para cumprir sua missão educativa permanente.

Recomenda aos estados-membros que adotem medidas legislativas, dêem conhecimento desta recomendação aos encarregados de museus e informem os prazos em que serão tomadas tais medidas.

Apresenta uma definição de museu baseada no tripé conservação, investigação e difusão.

Aos museus cabe: facilitar ao público mais diverso a apreciação das coleções; permanecer abertos todos os dias em horários convenientes aos visitantes; acolher da maneira mais agradável possível o visitante; franquear a entrada pelo menos uma vez por semana; isentar do pagamento da entrada as pessoas de baixa renda, as famílias numerosas, os grupos escolares, do programas educativos e as associações vinculadas a museus; estimular a repetição de visitas.

Aos estados-membros cabe: contribuir para fomentar a freqüência aos museus e às exposições, com o apoio dos órgãos de turismo, de tal forma que os museus possam assumir sua posição de centros intelectuais e culturais das localidades em que se acham situados, incentivando a população a participar de suas atividades e do seu desenvolvimento; estabelecer e desenvolver relações culturais entre os museus e os grupos existentes na comunidade, bem como entre os museus e serviços sociais das empresas comerciais e industrias; estabelecer cooperação entre os museus e as emissoras de rádio e televisão; reconhecer e estimular o aporte de meios de instrução escolar e da educação permanente criando postos de especialistas em educação e organismos de apoio pedagógico; favorecer a criação de associações de amigos dos museus.

Texto 03 - Museus: termos e conceitos

Este texto apresenta uma definição abrangente do fenômeno “museu”. Ele seria todo o conjunto de manifestações (material ou imaterial) do gênio humano. O texto discute também as diversas formas como ele é representado.

Começando pela definição de “museu interior” (conjunto de impressões que constituem o patrimônio emocional do indivíduo), base para as outras formas de museus.

Temos então o “museu tradicional”, cuja base conceitual é o objeto. Exemplos de museu tradicional são aqueles de arte, história, ciências, tecnologia, biográficos, temáticos e exploratórios, bem como os centros de ciência, casas históricas, jardins zoológicos, aquários, planetários, vivários e biodomos. Aqui verificamos que embora museus exploratórios sejam considerados tradicionais, sua base conceitual não é o objeto e sim a relação entre experimento e visitante.

Temos também os “museus de território” cuja base conceitual é o patrimônio. Aqui temos todos os elementos constituintes do território musealizado e considera-se o estudo das relações de sincronicidade e ruptura entre os componentes do conjunto. São exemplos deste tipo de representação: museus a céu aberto, áreas culturais preservadas, áreas naturais preservadas e os ecomuseus (onde o conceito de público é substituído pelo de comunidade).

Para completar temos os “museus virtuais” que apresentam as manifestações imagéticas das novas tecnologias da informação e da comunicação, e cuja base conceitual é a informação.

E por fim, de uma forma mais abrangente, o “museu global”, o planeta Terra, patrimônio comum da Humanidade, cuja base conceitual é a vida.

Texto 18 - O Tempo Social

As regras sociais são estabelecidas desde cedo, introduzidas pela nossa família, escola e meio de convivência. Através do cotidiano passamos pelas rotinas se portando conforme os padrões estabelecidos, consumindo, trabalhando, divertindo-se, o tempo é absorvido por estas ações e são deixadas de lado as responsabilidades sociais. Estas, não são tomadas por nós e os regulamentos nos são impostos, restando-nos apenas os deveres de trabalhar e distrair-se. Para o trabalho, por motivos e qualifacação e inserções no e mercado, temos o problema do desemprego. Distrair-se limita-se a condições de acesso físicas e informacionais, e de meios materias disponíveis.

A supervalorização à imagem e ao consumo do supérfluo diminuiu as qualidades como inteligência, experiência e imaginação do indivíduo/cidadão social. As indústrias, as empresas e os sistemas burocráticos apenas contabilizam as pessoas como números, como produção, e apesar do humano ser por essência um animal comunitário como diz Varine, estamos dentro de uma sociedade que impusiona ao competitividade e ao individualismo.

A máquina das instituições burocráticas, mesmo na democracia, não permite a liberdade de ações da população, Varine defende o desenvolvimento comunitário endógeno, auto-gerenciado, Paulo Freire confirma o desenvolvimento através da concientização das comunidades e suas particulares. Os sistemas de poder buscam sempre separar ação e poder, como forma de estratégia para se apoderar da decisão final sobre a comunidade. Mas, na verdade, o poder deveria servir as pessoas e favorecer as revoluções ao invés de impô-las.

Para Varine “o tempo social – é a chave da revolução comunitária, como conceito e como realidade. (...) parte da vida é consagrada à uma atividade de ordem comunitária, onde o interesse pessoal, material, fisico ou moral, não é nem predominante, nem determinante.” É aquele dispensado a alguma ação comunitária, não podendo ser confundido com o tempo livre, e pode ser usado em benefício da revolução comunitária.

Para exemplificar melhor o autor divide o tempo social em biológico e imposto, o primeiro está relacionado a ordem das necessidades físicas, desde a formação do corpo ao seu repouso, a ordem do consumo (necessário e supérfluo), tratando prioritariamente do indivíduo em si; os estímulos despertados nos indíviduos partem de seu corpo e também dos sistemas e regras que ele convive. O segundo está relacionado às ações impostas ao mesmo tempo por necessidades biológicas, explica as ações do indivíduo perante seu meio social, a vida escolar e familiar, as formalidades, as ações burocráticas e administrativas.

O tempo biológico é similar para todos, mas o tempo imposto já varia de acordo com a classe social, o tempo social deve ser escolhido: ações de responsabilidade social, ambiental ou política. Se o individuo fica confinado a trabalhos desgastantes, com fracas expressões em grupo, fica mais difícil a sua disponibilidade para atividade de ordem comunitária, diferente de quem tem facilidades e privilégios na educação e profissão. Mas, como coloca Paulo Freire papel social de um individuo depende de seu grau de conscientização, de compreender a sua ação como sujeito e não mais como espectador ou objeto, e de não envolver questões pessoais e egocentristas.

A sociedade é formada por um conjunto de coletividades, que refletem uma determinada forma de organização. Todos esses conjuntos (o indivíduo, o grupo e a comunidade) interagem uns com os outros, que podem ou não ter uma participação direta dentro da coletividade. Existem segundo Varine, três esquemas diferentes possíveis: 1 – O indivíduo está na ponta do grupo como liderança e somente interage determinando as ações e envolvimentos do restante do grupo, é perigoso pois possibilita enfraquecimento ou elevação da personalidade da liderança. 2 – O indivíduo está ao centro do grupo e interage apenas com parte do grup que lhe está mais próximo, ficando centralizador e totalitário. 3 – Mais equilibrado dos três esquemas, permite que haja uma interação entre indivíduos e grupos simutaneos, de forma plural, sem escalas e determinações de poder, há uma divisão de tarefas, permite mais durabilidade, autonomia e segurança do grupo.

“O tempo social é um tempo de liberdade.” Um tempo de criação, que não deve ser ignorado, principalmente pelas comunidades, pois estabelece caminhos de valorização da identidade e preservação do cotidiano social e cultural com soluções para o futuro, é a conservação da obra coletiva, da cultura em ação e viva.

Texto 17 - Repensando o conceito de museu

O texto resenhado, Repensando o conceito de museu, de autoria de Hughes de Varine e traduzido por Scheiner, é uma transcrição de uma palestra deste autor ministrada no Encontro ICOM/UNESCO sobre Museus e Comunidades em 1986 na Suécia. O texto tem como objetivo apresentar as novas funções que o museu deve desempenhar para a sociedade, assim como propõe uma urgente revisão de suas práticas e de seus métodos por parte dos profissionais que atuam direta ou indiretamente nesta área.

Varine começa sua palestra determinando o papel do museu no mundo contemporâneo. Para ele, essa instituição “[...] deve tornar-se um agente ativo do desenvolvimento geral, e isto porque [...] é um símbolo e um repositório da identidade cultural. [...]” (p.83), e não apenas um reservatório da cultura com a função de apresentar segmentos do saber científico. Dessa maneira, propõe que o museu assuma o papel de instrumento original da comunicação através da linguagem fundamentada nos objetos reais. Pautado nesta visão, o autor estabelece as quatro principais funções do novo museu: banco de dados sobre objetos; observatório de mudanças; meio de produção científica, assim como de integração comunitária; mostruário da atual conjuntura da comunidade.

Em seguida, Varine afirma que este museu proposto deve adotar estas novas funções sem deixar de desempenhar as antigas. E aponta também duas medidas imprescindíveis: eliminar o uso de rótulos (metodologias pré-estabelecidas), pois cada comunidade tem suas características e necessidades próprias; atuar efetiva e simultaneamente no âmbito da ação, da capacitação e da investigação.

Um ponto importante abordado por Varine é a linguagem singular que o museu detém. Segundo ele, num museu fala-se “[...] a linguagem das coisas reais [...]” (p.84), onde “[...] devemos ser capazes de selecionar os materiais para as nossas decisões, para reconstruir constantemente nossa sociedade e o futuro de nossas crianças.” (p. 85).

É interessante também ressaltar as três etapas básicas determinadas pelo autor para a instalação e funcionamento deste novo museu. Primeiramente propõe-se que haja uma orientação técnica de profissionais que não pertençam à comunidade, assim como um suporte financeiro nesta fase inicial. Em seguida, é necessário o estímulo de uma mobilização dos membros da comunidade sensíveis às questões do museu. E, por fim, elaborar uma auto-estrutura de financiamento que possibilite os membros da comunidade intervir no museu com ampla liberdade.

Desta maneira, pode concluir que o texto possui um caráter pessoal sobre suas afirmativas, pois estas são baseadas nas próprias experiências de Varine, principalmente, nas questões dos museus de origem ou de suporte comunitários. Sua leitura é interessante e importante por nos apresentar um demonstrativo da origem de teorias de grande significância no âmbito da museologia contemporânea, visto que este artigo data da década de 80. Principalmente a questão atual de que o museu deve ser um meio pelo qual sua comunidade possa reconhecer-se, desempenhando assim sua função de centro de memória.

Texto 16 - A Nova Museologia: o que é?

O texto de Marc Maure tem como objetivo inicial definir a Nova Museologia de uma maneira pessoal, levando em consideração a existência de várias outras definições. Porém, antes de estabelecer essa definição, para uma maior compreensão sobre a Nova Museologia, ele fala sobre a diferença entre dois aspectos: A nova Museologia como um fenômeno histórico e a nova Museologia como um sistema de valores.

Para o autor a nova Museologia é um fenômeno histórico, pois é um produto de movimentos culturais dos anos 60 e 70, em que o papel do museu foi julgado e censurado por todo o seu tradicionalismo. Dessa forma a nova Museologia se caracteriza pela criação de novos modelos, buscando uma concepção modernizada.
A Museologia também é caracterizada por Maure como um sistema de valores. Isto por expressar uma ideologia específica, uma filosofia e um estado de espírito que caracterizam certos museólogos.

Após Maure explicar esses dois aspectos, ele define a Nova Muselogia como uma Museologia de Ação, e utiliza um esquema com alguns parâmetros para definir a Museologia. Entre esses parâmetros citamos: a “Democracia Cultural” e “Um Novo Paradigma”.

No parâmetro “Democracia Cultural”, está em destaque a função essencial do museu na perspectiva da Nova Museologia: um instrumento de desenvolvimento social e cultural, à serviço da sociedade democrática. Dessa maneira todos os grupos que existem no Estado-nação possuem os mesmo direitos e possibilidades de consolidação de sua própria cultura, sem existir uma exclusão.

No parâmetro “Um Novo Paradigma”, o autor fala primeiramente da visão monodisciplinar do museu tradicional, que confronta com a visão do novo museu, que prioriza a multidisciplinaridade e a ecologia. Depois, o autor analisa que o novo museu não está disponível a um público indeterminado, e sim a serviço de uma comunidade específica.

A seguir Marc diz que para ele a Nova Museologia não é o contrário de Museologia, se opondo ao ponto de vista de alguns extremistas. Ele a considera uma estratégia que deve ser utilizada em certas situações.

Em seguida o autor define o que é Museologia, levando em consideração outras maneiras de defini-la, e destaca que a idéia principal da Museologia é que ela é uma ciência social.

No parâmetro “A Museologia como Ciência Social” o autor nos apresenta que toda ciência consagrada ao estudo dos fenômenos sociais e culturais pode ser objeto de diferentes práticas, de acordo com a sua utilidade ou com a distância existente entre o pesquisador e o objeto de seu estudo.

Continuando o texto, Marc, faz distinções entre a Ciência pura, onde o cruzamento de conhecimentos teóricos é o objetivo principal da pesquisa. Havendo uma grande distância entre o pesquisador e o objeto de estudo, a Ciência aplicada, objetivo da pesquisa é levar a uma melhor compreensão dos fenômenos a fim de contribuir para a solução da prática dos problemas estudados. A distância entre o pesquisador e o objeto de estudo é relativamente curta, e a Ciência de Ação, cujo objetivo principal da pesquisa é encontrar respostas e soluções práticas dos problemas estudados. A distancia existente entre o pesquisador e o objeto de estudo e muito curta.

Adiante o autor esquematiza o museu tradicional, construção que guarda uma coleção de objetos, e o novo museu, cujo campo de ação engloba o território de sua comunidade; território definido no senso de entidade geográfica, política, econômica, natural e cultural, como museu tradicional uma construção + uma coleção + um público, e o novo museu como um território + um patrimônio + uma comunidade. O novo museu fornece aos membros da comunidade um instrumento que lhe permita aumentar seus conhecimentos sobre o próprio território e sua situação presente.

No parâmetro “Um Sistema Aberto e Interativo” o autor mostra um novo modelo de trabalho museal. Não se tratando mais de um processo onde as operações de coleta, preservação e difusão são efetuadas no museu, constituindo um mundo à parte da sociedade. As diferentes funções não são mais organizadas de uma maneira linear, como no museu tradicional, mas integradas dinamicamente em um processo circular e aberto, tendo por objeto o patrimônio da comunidade.

O funcionamento do novo museu é baseado na participação ativa dos membros da comunidade. Esse tipo de trabalho museal é baseado no dialogo entre museólogos e os membros da comunidade. Estes não sendo mais considerados objetos de estudo, nem receptores passivos da mensagem do museólogo, mas como sujeitos conhecedores das questões que concernem à sua própria história e seu meio ambiente.

O texto nos mostra que isto implica em um novo papel para o museólogo profissional. Trata-se de fornecer aos membros da comunidade os instrumentos conceituais e materiais, permitindo-lhes fazer parte do processo de coleta, preservação, pesquisa e difusão, considerando o seu patrimônio como objeto. O museólogo não é o especialista encarregado de deliberar a verdade, mas um catalisador a serviço das necessidades da comunidade.

Em seu ultimo parâmetro, “Um Método: A Exposição”, Marc nos mostra que uma das características essenciais da nova museologia consiste na utilização de métodos de trabalho baseados no diálogo entre o museólogo e a comunidade, para o estudo, a preservação e a difusão da cultura dessa comunidade.

A exposição constitui uma das mais importantes ferramentas de diálogo e de conscientização de que o museólogo dispõe. As razões residem principalmente no fato de que a exposição constitui uma linguagem visual utilizada e praticada por todos na vida cotidiana. Ela constitui um espaço físico que pode ser utilizado como lugar de encontro, de convivência, de troca e de debate.

O método consiste em engajar um grupo em um processo de pesquisa e de comunicação, em torno de temas ligados a realidade social e cultural dos membros desse grupo. È um processo que compreende várias fases: planificação, pesquisa, documentação, coleta, produção, apresentação e debate.

Texto 15 - Ecomuseus e arqueologia industrial

O rico texto de Mathilde Bellaigue aborda o desafio de conservação do patrimônio industrial, e a sua relação com o conceito de Ecomuseu.

Valendo-se de sua experiência à frente do projeto de desenvolvimento e de implantação do Ecomuseu do Creusot, Bellaigue nos informa sobre as dificuldades legislativas e econômicas enfrentadas na instituição de tal museu, e nos adverte que, ainda que os primeiros grandes encontros internacionais sobre Arqueologia Industrial tenham chamado a atenção de especialistas do mundo todo para tal vertente preservacionista, foi somente em 1976, na região francesa do Creusot, “que se lançaram as bases de uma política de reconhecimento e valorização desse patrimônio”.

Prosseguindo, a autora reflete sobre as relações entre memória e território, duas noções que ela considera fundamentais à Ecomuseologia, e que “sustentam a filosofia dos ecomuseus em relação ao patrimônio industrial”. Para Mathilde, em tal modelo, “é essencial considerar as condições globais do meio ambiente nas quais os sítios e as paisagens são preservados”.

No modelo de Ecomuseu -em mais do que qualquer outro- a participação da comunidade é fundamental; é ela que, junto ao museu, se conscientiza e descobre o valor histórico, simbólico e estético do próprio patrimônio, tornando-se, assim, o que Bellaigue denomina de “’explicadores’ do seu território”. Ou seja, intérpretes da própria herança. Ademais, “toda ação de conservação do patrimônio industrial visa, tanto quanto possível, motivar os herdeiros desse patrimônio”, como enfatiza a autora.

O texto aborda, também, a inserção da esfera da criação em um Ecomuseu. Ao narrar a experiência do Creusot, que convida um artista para elaborar algumas esculturas tomando como base grandes modelos de fundição do acervo do próprio museu, a autora deseja nos indagar, se, por acaso, “seria então uma utopia desejar associar à história e à arqueologia do patrimônio industrial o imaginário técnico e artístico, dado o risco de subvertê-lo pela superposição entre conservação e inovação [...]?”.

Concluindo a sua instigante explanação, Mathilde nos aconselha a aproveitar que cada vez mais a atuação cultural das empresas é levada em conta, para assim promovermos as noções culturais abordadas, junto aos empresários sensíveis às questões inerentes à preservação do patrimônio.