terça-feira, 5 de agosto de 2008

Texto 38 - Criar seu museu – uma experiência comunitária

(Relatório preparado pelo programa dos Museus Locais e Escolares do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) do México e apresentado no 42º Congresso dos Americanistas, realizado em Paris, França, de 2 a 10 de Setembro de 1976).

A autora inicia sua explanação abordando o conceito moderno do museu, que consiste em mostrar o desenvolvimento econômico, cultural, político e social do homem, em área geográfica específica, sendo possível que os visitantes do museu observem os problemas de interesse, respeito e que determinam a vida daquela região.

Através do conceito moderno de museu e do Programa dos Museus Locais e Escolares do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAHG), surge a idéia de um programa que abordará aos diferentes setores sociais do país, museus que constituíssem a autenticidade histórica e criatividade dos habitantes de uma determinada região, funcionando como complemento do ensino formal, incentivando a organização de grupos sociais locais, promovendo o crescimento econômico e cultural das regiões participantes.

O programa dos museus locais desenvolveu-se conforme as necessidades sociais da população e das diversas soluções colocadas.

Pessoas comuns, provenientes de todos os grupos sociais e econômicos local, comerciantes, moradores da região, donas de casa, etc, formam uma organização civil, responsável em administrar, organizar, dirigir e manter o museu.

Essa associação ficará responsável pelo funcionamento dinâmico do museu e deverá ter consciência que eles serão os responsáveis em sensibilizar os habitantes da região sobre a importância da criação do museu, tendo este trabalho não apenas criado para meio cultural favorável, mas como forma de identificação de problemas sociais locais.

A formação das coleções do museu será através de doações e empréstimos da própria comunidade, aquisição pelos membros da sociedade civil, da transferência de objetos ou da coleta de objetos espalhados sem controle pela municipalidade. O abrigo dessas coleções será em construções coloniais e casas históricas, pois parecem mais indicadas para tornarem-se museus. Caso não haja nenhum espaço apropriado, a associação civil destinará construir um local para abrigar a sede do novo museu.

O primeiro museu inaugurado foi o de Acambaro, em 1973, seguido do Museu do Vale do Santiago e do Museu de Penjano, sendo o próximo museu a ser implementado será o de Salamanca.

A autora comenta com certa apreciação sobre o Museu de Penjano, pois apesar de ser um município em situação de abandono, apatia, insalubridade, poluição, falta de interesse pelos problemas sociais e culturais, analfabetismo e taxa elevada de migração de trabalhadores agrícolas, surge a idéia de criar um museu espelho de uma realidade apresentada anteriormente caótica, mas de forma a demonstrar soluções para os problemas que afetam essa comunidade.

Para a integração, foi montada uma exposição temporária que levaria aos seus habitantes os problemas que eles enfrentam, para que tomassem consciência destes. Foi montada uma equipe com funções delegadas para que a exposição fosse executada, desde seus aspectos burocráticos até a parte prática. Houve grande ação e mobilização da comunidade para que tudo pudesse transcorrer da melhor maneira possível. Estavam incluídos desde o prefeito, passando por donas de casa e estudantes, envolvendo até a Cruz Vermelha.

Para a realização completa do trabalho, foram necessários seis meses de trabalho. Os custos foram divididos e chegaram ao montante de 25 mil pesos. Para que tudo pudesse ganhar uma grande proporção, foi feito um detalhe minucioso das tarefas, durante seu período de realização. A interação desejada foi alcançada de forma dinâmica, entre os diversos estratos da sociedade. Houve uma união devido a um processo cultural.

Após esse período da exposição temporária, foi programada uma visita itinerante por localidades próximas, para que houvesse uma relação entre esses locais, o que não ocorria anteriormente. Devido a uma série de problemas, não pode ser constituída a Associação Civil, pois cada localidade tem que ter uma fórmula para adaptação e nem sempre ocorria de forma orgânica.

Após dois anos de trabalho efetivo, foi possível perceber a importância da relação museu/população. Graças à exposição dos seus problemas, a sociedade local pode identificá-los e então poder combatê-los, pois passam a ser organizar. Há maior integração entre os grupos. Foi possível inclusive, a implantação de uma escola primária.

Em relação a esta escola, percebeu-se a comunicação entre os setores campo-cidade e que esta última se desenvolveria sem ônus para a primeira, o que não ocorria anteriormente. Inclusive foi criada uma estrada para que o acesso do meio rural fosse facilitado. Desse ponto do projeto partiram-se outros, com igual importância, como campanhas de alfabetização, além do estímulo à educação primária.

Conclusões

O grupo social percebeu-se como membro integrante e atuante de sua comunidade, o que não ocorria, já que estavam isolados de forma econômica, social e cultural.
É um grupo assumidamente heterogêneo no que diz a condição financeira, mas está integrado em sua essência cultural. Muitos grupos urbanos passaram, inclusive, a adotar uma postura solidária em relação aos moradores do campo.

Podemos então notar: a grande função social que esse museu dotou a esta sociedade, até então dissociada de seus valores, mostrando que não é necessário grau de instrução (alfabetização) para que se compreenda os processos de museu, já que, se os objetos que estão dentro daquele museu são identificados com facilidade por aquela sociedade, não há necessidade de legendas para a sua identificação formal.

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