terça-feira, 5 de agosto de 2008

Texto 25 - Museus, Museologia e Diversidade Cultural: Uma complexa tríade

O texto de Márcio Ferreira Rangel aborda os museus, a museologia e a diversidade cultural como uma fatídica problemática da museologia e seus estudiosos na América Latina e Caribe, pelo fato de existir uma diversidade cultural nesses países, antes mesmo de seus descobrimentos; uma vez que os índios, que já habitavam esses locais, eram divididos entre si em diferentes grupos. Eram grupos latinos que, depois do descobrimento do novo mundo e da adoção da mão de obra escrava africana, somaram-se aos brancos europeus e aos negros.

O autor usa como exemplo a museologia e os profissionais brasileiros. Por ser o Brasil um país de amplas dimensões, possuidor de regiões diferentes entre si, e de um grupo populacional profundamente heterogêneo, questiona-se o fato de haver uma impossibilidade de os museus brasileiros não serem capazes de representarem a ampla diversidade existente, questiona-se também como um museu pode ser, e se pode espelhar tantas questões ao mesmo tempo.

Rangel parte do fato de a região Sudeste possuir um grande predomínio, sobretudo nos estados do Rio e São Paulo. Temos uma visibilidade latente deste fato, quando observamos suas respectivas capitais. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, segundo o autor, monopoliza instituições nacionais como Museus Nacionais, o Arquivo Nacional e a Biblioteca Nacional. Rangel atenta para o aumento do número de Museus de Bairro, Ecomuseus... Segundo o autor, este movimento surge para representar os que ficam de fora das grandes instituições. Ressaltando a necessidade de representarmos, na medida do possível, esses grupos, e atentarmos a outros que se encontram ainda mais distantes, como tribos indígenas que não falam Português. O autor questiona como inserir esse último grupo em instituições nacionais.

Rangel relata um fato ocorrido na reunião anual da Sociedade Brasileira para o progresso da ciência, do ano de 1995, quando o autor pôde conhecer um trabalho realizado com uma tribo de Bororos, em Mato Grosso, onde foi organizado um museu que visa a preservação dos vestígios mnemônicos, que restaram naquela comunidade depois do contato com o branco, fato que causou danos aos Bororos. A coleção do museu, em questão, é formada por objetos de valor doados pelos próprios índios, esses objetos encontram-se organizados segundo as necessidades do grupo, o que estreita as relações com o museu, que acabou por se tornar um elo quase sagrado, ligando os Bororos com o seu passado.

Posteriormente, o texto afirma que a dificuldade maior se dá pelo fato de não haver uma identidade nacional definida. E questiona, ainda, se não seria melhor adotar a lógica de identidades no plural para abrangermos os diferenciados grupos existentes.

Citando White, o autor sugere que os museus poderiam aplicar a teoria dos tropos praticando diferentes discursos sobre o mesmo assunto. Afirma ainda que um dos papéis da museologia é trabalhar com a preservação dos testemunhos produzidos pelos diversos grupos e que a existência de instituições nacionais mata essa diversidade. O autor atenta para o fato de não poder haver museificações estratificadas e cristalizadas.

Segundo o texto, atualmente, o patrimônio cultural não abrange apenas a herança cultural, mas outros bens visíveis e invisíveis, além de englobar os grupos não hegemônicos. Sobretudo o patrimônio cultural é o fator de ligação dos indivíduos de uma sociedade. Entretanto, o autor indica que o patrimônio, no âmbito da teoria da reprodução cultural, não pertence a todos, quando investigações já mostram que as formas de cada sociedade transmitir seus saberes são diferentes da herança cultural. Conforme um grupo desce na escala econômica, mais deficitária será sua educação e menor será seu capital cultural. O fato de as classes hegemônicas se apropriarem do patrimônio comum, na medida em que possuem informação e formação para controlá-los melhor, torna necessária criação de inúmeras medidas para que os produtos de valor, gerados pelas classes populares, se tornem um patrimônio nacionalmente conhecido.

O autor acredita que para abranger esses setores de identidades excluídas, devemos reformular a noção de patrimônio considerando os usos sociais e o modo de apropriação da história. Deve-se, segundo Rangel, assumir a problemática que envolve a questão do patrimônio, o autor encerra afirmando acreditar na possibilidade de viabilizarmos um projeto histórico solidário para a afirmação de uma nação tão heterogênea.

Um comentário:

Ceccra PJU disse...

Ola Maira, gostei do texto, só gostaria de atentar que os índios não "eram" e nem são latinos. O conceito de america latina foi criada pelos franceses no século XIX e correspondia aos descendentes dos povos de linguás latinas no continente (francês, espanhol e português) o que, nós sabemos, não inclui os indios, o próprio nome indio já é meio arbitrário mas essa já é uma outra prosa. abraços