terça-feira, 5 de agosto de 2008

Texto 18 - O Tempo Social

As regras sociais são estabelecidas desde cedo, introduzidas pela nossa família, escola e meio de convivência. Através do cotidiano passamos pelas rotinas se portando conforme os padrões estabelecidos, consumindo, trabalhando, divertindo-se, o tempo é absorvido por estas ações e são deixadas de lado as responsabilidades sociais. Estas, não são tomadas por nós e os regulamentos nos são impostos, restando-nos apenas os deveres de trabalhar e distrair-se. Para o trabalho, por motivos e qualifacação e inserções no e mercado, temos o problema do desemprego. Distrair-se limita-se a condições de acesso físicas e informacionais, e de meios materias disponíveis.

A supervalorização à imagem e ao consumo do supérfluo diminuiu as qualidades como inteligência, experiência e imaginação do indivíduo/cidadão social. As indústrias, as empresas e os sistemas burocráticos apenas contabilizam as pessoas como números, como produção, e apesar do humano ser por essência um animal comunitário como diz Varine, estamos dentro de uma sociedade que impusiona ao competitividade e ao individualismo.

A máquina das instituições burocráticas, mesmo na democracia, não permite a liberdade de ações da população, Varine defende o desenvolvimento comunitário endógeno, auto-gerenciado, Paulo Freire confirma o desenvolvimento através da concientização das comunidades e suas particulares. Os sistemas de poder buscam sempre separar ação e poder, como forma de estratégia para se apoderar da decisão final sobre a comunidade. Mas, na verdade, o poder deveria servir as pessoas e favorecer as revoluções ao invés de impô-las.

Para Varine “o tempo social – é a chave da revolução comunitária, como conceito e como realidade. (...) parte da vida é consagrada à uma atividade de ordem comunitária, onde o interesse pessoal, material, fisico ou moral, não é nem predominante, nem determinante.” É aquele dispensado a alguma ação comunitária, não podendo ser confundido com o tempo livre, e pode ser usado em benefício da revolução comunitária.

Para exemplificar melhor o autor divide o tempo social em biológico e imposto, o primeiro está relacionado a ordem das necessidades físicas, desde a formação do corpo ao seu repouso, a ordem do consumo (necessário e supérfluo), tratando prioritariamente do indivíduo em si; os estímulos despertados nos indíviduos partem de seu corpo e também dos sistemas e regras que ele convive. O segundo está relacionado às ações impostas ao mesmo tempo por necessidades biológicas, explica as ações do indivíduo perante seu meio social, a vida escolar e familiar, as formalidades, as ações burocráticas e administrativas.

O tempo biológico é similar para todos, mas o tempo imposto já varia de acordo com a classe social, o tempo social deve ser escolhido: ações de responsabilidade social, ambiental ou política. Se o individuo fica confinado a trabalhos desgastantes, com fracas expressões em grupo, fica mais difícil a sua disponibilidade para atividade de ordem comunitária, diferente de quem tem facilidades e privilégios na educação e profissão. Mas, como coloca Paulo Freire papel social de um individuo depende de seu grau de conscientização, de compreender a sua ação como sujeito e não mais como espectador ou objeto, e de não envolver questões pessoais e egocentristas.

A sociedade é formada por um conjunto de coletividades, que refletem uma determinada forma de organização. Todos esses conjuntos (o indivíduo, o grupo e a comunidade) interagem uns com os outros, que podem ou não ter uma participação direta dentro da coletividade. Existem segundo Varine, três esquemas diferentes possíveis: 1 – O indivíduo está na ponta do grupo como liderança e somente interage determinando as ações e envolvimentos do restante do grupo, é perigoso pois possibilita enfraquecimento ou elevação da personalidade da liderança. 2 – O indivíduo está ao centro do grupo e interage apenas com parte do grup que lhe está mais próximo, ficando centralizador e totalitário. 3 – Mais equilibrado dos três esquemas, permite que haja uma interação entre indivíduos e grupos simutaneos, de forma plural, sem escalas e determinações de poder, há uma divisão de tarefas, permite mais durabilidade, autonomia e segurança do grupo.

“O tempo social é um tempo de liberdade.” Um tempo de criação, que não deve ser ignorado, principalmente pelas comunidades, pois estabelece caminhos de valorização da identidade e preservação do cotidiano social e cultural com soluções para o futuro, é a conservação da obra coletiva, da cultura em ação e viva.

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