terça-feira, 5 de agosto de 2008

Caderno 03/Texto 05 - Extensão Cultural e Pedagogia do Desenvolvimento: um desafio para a contemporaneidade da Museologia latino-americana

1. Um pouco de história e tradição
As ações destinadas à preservação do patrimônio histórico e cultural pretendem valorizar a memória – através de seus fatos e atos – do passado, para que esta mantivesse sua vigência mesmo com o passar do tempo. Esta função de formação, que foi esquecida muitas vezes por um simples exibicionismo, foi voltando a tona gradativamente ganhando muito espaço a partir dos anos 60. Há uma confusão, porém, entre o que seria a ‘instrução pública’ e a ‘educação popular’ e aconteceram reduções da cultura popular em exposições de folclore ou de arqueologia. Esta cultura popular tem sim estes componentes, mas é basicamente etnográfica. Ela se mantém viva porque “se perpetuam nas práticas cotidianas com a vigência absoluta de seus valores” . Ao discutirmos cultura e educação popular na América Latina percebemos que ela é tão viva, pois explicita os espaços de conflito. Assim, se permite duas formas diferentes de ação sobre esta cultura, a ação educativa institucional que traz o modelo de superação evitando chegar ao cerne do conflito, e os outros representantes da comunidade, como os museus, por exemplo, que o coisificam.

1.2 . A história de um desacerto
A educação popular na América Latina era o que a classe dominante proporcionava à classe dominada, assim podendo garantir a continuação do sistema social. Nos anos 60, Paulo Freire traz novas visões questionando a simples reprodução de conteúdo em sala de aula, sem espaço para debate, para opiniões divergentes, impondo ao educando e não propondo sua participação.

Esta proposta educativa para um desenvolvimento cultural integral, traduziu a demanda indiscutível dos povos do cone sul e propôs uma educação formativa e uma extensão cultural dos conteúdos e dos valores vivos e das práticas sociais, supostamente em conflito com modelos de estratificação social vigentes e/ou permitidos .

1.3. A meta da contemporaneidade
Conscientes da relação íntima que existe entre a ação educativa oficial e a função educativa dos museus, já que ambas planejam e difundem conteúdos e ações para valorizar e desenvolver certas práticas sociais; trataremos da extensão museológica como em paralelo ao sistema educativo, para que ao enfatizar os valores integrais possa contribuir coma função educativa institucional. Esta extensão tem como ponto de partida a definição da função do museólogo neste processo, já que os objetivos e metas precisam estar comprometidas a todos os envolvidos (a própria instituição, as estratégias museográficas e o grupo social “que lhe empresta conteúdo e valoriza sua ação” ).

2. A Extensão como teoria e prática das identidades
A extensão parte do diálogo entre os extensionistas e a sociedade, já que “dialogar supõe uma realidade partilhada” . Sendo que é necessário que se perceba a realidade/objeto como por onde são passadas as mensagens dentro de uma complexa rede. O sucesso ou não de uma extensão cultural (ou museológica) dependerá de sua adequação ao processo sociocultural que pertence (e quem deve fazer esta adequação é o museólogo, de preferência, a partir da política museológica da instituição). Isto é, depende do êxito do diálogo das partes, sem que fique limitado a um “modelo estrutural de percepção monovalorativa” .

As culturas populares são espaços articulados e articulantes da cultura total e integral de uma nação. Manifestam o conflito porque estão vivas, circulando pelas redes visíveis ou pelas redes subterrâneas, que lhes permitem construir as identidades locais e regionais.

3. A contemporaneidade da Museologia latino-americana: extensão cultural ou pedagogia do desenvolvimento
A extensão museológica é um agente de mudança, e assim vai respondendo conforme interesses (culturais, econômicos, ideológicos, valorativos). A percepção tradicional e reducionista da realidade (a partir de um modelo de política educativa e cultural) sustentou projetos que obtinham pequenas transformações em espaços reduzidos e a simples exclusão daquele que não decodificasse as mensagens do líder. E este tipo de ação não deve prevalecer neste processo de globalização, quando o global trouxe novamente a tona a natureza do conflito. No global o individual perde força, e o popular ganha somente a marginalidade (fora quando exotismo do folclórico). A extensão como proposta de desenvolvimento é aquela que se aproxima dos processos e dos envovidos, recolocando seguidamente os conceitos de ‘realidade’ e ‘cultural’ em suas dinâmicas (complexas), que em final levam “a definição de lugar próprio” .

“Um projeto de extensão museológica das culturas populares num modelo de sociedade moderna, ou das culturas regionais no quadro da globalização das sociedades pós-modernas” deveria ter objetivos como: a reelaboração constante da realidade, reconstruir filosofias e políticas culturais que pensem o desenvolvimento social regional e integral, usar de técnicas e métodos na extensão museológica que estejam embasadas em ações que informem formando e busquem a autoformação, para que os agentes se tornem ativos e comprometidos com todo seu processo social regional. Em resumo, conceitualizar a meta que surge na contemporaneidade usando nos museus de teorias e práxis mais próximas aos problemas e a complexidade social latino-americana. Respeitar o futuro, mantendo sua incerteza de forma a permitir que os conflitos gerados pelas “culturas populares” no interior da cultura integral de um país possam ser otimizados.

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