terça-feira, 5 de agosto de 2008

Caderno 03/Texto 04 (a) – Museus, sociedade e meio ambiente

Mesmo reconhecendo a existência de outras prioridades, como problemas políticos, econômicos e sociais, o autor recomenda que sejam reconsiderados os temas que relacionam museu e meio ambiente. Tema abordado na ECO-92, a questão ambiental assume hoje grande importância, já que incide diretamente sobre a vida das pessoas ou porque todos se preocupem com o futuro do planeta e da biosfera.

Segundo Michael, embora a princípio a relação entre museu e entorno não desperte atenção, deve ser abordada como importante tema para a reflexão de museólogos.

Enumera dois pontos que não devem ser desprezados pelos museólogos caso realmente desejem, através do museu, influenciar o comportamento da sociedade face aos problemas ligados ao entorno: o impacto provocado pelo próprio museu no entorno e o papel que podem desempenhar visando à melhor compreensão da relação público-meio ambiente e dos problemas do entorno, que agora se apresentam.

Ressalta ainda um terceiro aspecto nessa relação, a influência do entorno sobre os museus e suas coleções, citando como o mais freqüente a poluição do ar no centro das grandes cidades, alertando aos museólogos quanto à atenção e à tomada de medidas necessárias o mais rápido possível, inclusive procurando sensibilizar a opinião pública. Também são por ele citados o aquecimento global, recomendando inclusive a transferência de museus situados em áreas litorâneas para locais mais elevados; atos de guerra, acarretando vandalismo, e interrupções nos serviços indispensáveis, embora reconhecendo serem poucas as medidas preventivas a ser tomadas.

Alerta ainda quanto à urbanização desordenada, capaz de provocar uma rápida degradação do meio ambiente, e a conseqüente decadência de um endereço, antes de prestígio; talvez a atuação em campanhas comunitárias por parte de museus situados em áreas com esse perfil possa minimizar o impacto desses fatores, uma vez que sua atuação pode ajudar a comunidade a compreender como sua atitude pode contribuir tanto para a proteção como para a degradação do meio ambiente.

Considera ainda o autor que, embora se creia que os problemas ambientais sejam traduzidos pela poluição do ar, dos rios e oceanos, pela extinção de espécies, habitats e florestas, uma política em relação ao entorno deveria desenvolver-se em escala mundial, estudando-se desde a degradação da camada de ozônio ao efeito estufa, levando-se em conta que 80% da população mundial vive em países em vias de desenvolvimento; descreve problemas relativos ao entorno, surgidos nas últimas décadas, relativos ao contraste entre o primeiro e o segundo mundos, como a poluição atmosférica, o buraco na camada de ozônio, o desmatamento, a exploração excessiva dos recursos naturais, dentre outros.

Reconhece que, apesar de causarem graves danos ao entorno, certas atividades, como a indústria, a produção e distribuição de energia, o turismo e sua infraestrutura, etc., tornam-se indispensáveis para o desenvolvimento econômico, evitando por vezes a miséria, o maior problema ambiental, e lembra que os museus – enquanto instituição a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento– deverão implementar ações no sentido de contribuir para a solução das questões relativas ao meio ambiente.

Cita Nancy Hushion, que presidiu o Comitê da Conferência em Quebec, que colocou a seguinte questão: O museu apresenta dificuldades para abordar tais questões relativas ao meio ambiente porque, na maioria das vezes, o aporte financeiro que garante sua sobrevivência é oriundo de empresas poluidoras. Como o museu deve ter um discurso coerente, deve optar por apenas uma das questões, fato que algumas vezes se mostra impossível, levando o museu a não adotar nenhuma medida concreta.

Michael alerta que, há muitas décadas, a questão é bastante espinhosa para os museólogos e simplesmente não se resolve porque são cada vez maiores as dificuldades e, muitas vezes, há necessidade de adotar medidas de caráter político.

Ao museu não basta apenas ser coerente em seu discurso, deverá, também, ser persuasivo na forma como expõe seu ponto de vista, baseando-se em informações fidedignas que tenham autoridade junto a sua direção, visitantes, comunidade e outros, adotando medidas que melhor atendam suas necessidades na questão ambiental.

Os museus de ciências naturais, por exemplo, que apresentam em suas coleções elementos da fauna e da flora, deverão aproveitar para apresentar também exemplares que estão em extinção, conscientizando os freqüentadores sobre a necessidade de sua preservação. O diálogo poderá ser estabelecido através de exposições enfocando o meio ambiente.

Outra questão sobre qual o museu não pode prescindir, como qualquer empresa, diz respeito à responsabilidade sobre o consumo de recursos e à produção de resíduos que interferem no meio ambiente. O museólogo deverá estar consciente de sua responsabilidade ao trabalhar o ambiente em que está inserido, tanto social quanto natural.

Especial atenção deverá ser dada a questão de museus cujas coleções são constituídas por espécies que vivem em estado selvagem - jardins botânicos, zoológicos, etc. – considerando que suas atividades não deverão contribuir para a extinção de algumas dessas espécimes.

Então, temos a seguinte pergunta: Qual o papel do museu para que a relação entre público, “entorno” e os problemas ambientais que a humanidade enfrenta sejam melhor compreendidos?

O autor apresenta algumas possibilidades, dentre outras, que podem ser postas em prática pelos museus: os de ciências podem criar projetos para que a população entenda como a ciência pode se colocar a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, mormente acerca dos problemas ambientais; os de arte podem através de exposições apresentar as questões sociais oriundas das cidades-dormitório existentes junto aos grandes centros; os de história social podem mostrar a evolução da sociedade e os meios desenvolvidos para atenuar a degradação do meio ambiente, etc.

Afinal, Michael ressalta a necessidade de que haja uma troca de experiências entre os museus dos diversos países sobre as medidas implementadas, de forma que se possa avançar na temática ora exposta – museus e meio ambiente.

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